Por muito tempo, falar em inteligência artificial (IA) soava como algo distante da realidade das pequenas empresas. Parecia uma tecnologia restrita a grandes corporações, com orçamentos robustos e equipes especializadas. Mas essa percepção não se sustenta mais. Hoje, a IA está ao alcance de qualquer empreendedor disposto a repensar sua forma de gerir. E isso não é uma promessa futurista, é uma oportunidade concreta de transformação no presente.

Segundo o Sebrae (2024), as micro e pequenas empresas representam 97% dos negócios brasileiros, respondendo por 27% do PIB e 54% dos empregos formais no setor privado. Ou seja, qualquer avanço de produtividade nesse segmento tem impacto direto na economia. É justamente aí que a inteligência artificial entra como um divisor de águas. De acordo com a McKinsey Global Survey (2024), empresas que implementaram soluções de IA registraram aumento médio de 20% a 30% na produtividade operacional. Para um pequeno empresário, essa margem pode ser o suficiente para sair do vermelho e começar a crescer de forma sustentável.

O que torna essa revolução possível é a democratização das ferramentas. A OECD (2024) aponta que a popularização da IA generativa e das soluções low-code e no-code está nivelando o campo competitivo entre pequenas e grandes empresas. Isso significa que um empreendedor pode automatizar tarefas, analisar dados e até criar campanhas de marketing sem precisar dominar programação ou investir alto em infraestrutura. A gestão deixa de ser reativa e passa a ser inteligente, baseada em dados, previsões e decisões mais assertivas. O Gartner (2024) reforça esse movimento ao mostrar que 60% das PMEs que usam IA para análise de dados relatam decisões mais rápidas e precisas.

É verdade que ainda há resistência. Muitos gestores veem a IA como uma ameaça ao trabalho humano ou como um recurso complexo demais para seu dia a dia. Essa visão ignora o ponto central: a IA não substitui o gestor, ela o liberta do operacional para que possa agir de forma mais estratégica. O relatório da PwC (2023) estima que a automação pode reduzir custos operacionais em até 25% em pequenas e médias empresas. Essa economia, somada à redução de erros, permite que o empreendedor foque em inovação e relacionamento com o cliente, áreas onde o fator humano continua insubstituível.

Alguns críticos argumentam que pequenas empresas têm desafios mais urgentes do que investir em tecnologia. De fato, é difícil pensar em transformação digital quando a prioridade é pagar contas e manter o fluxo de caixa. Mas é justamente nessas situações que a IA faz diferença. Ao automatizar tarefas repetitivas e transformar dados dispersos em inteligência prática, ela devolve ao empreendedor o bem mais escasso de todos: o tempo. E tempo, no mundo dos pequenos negócios, é sinônimo de sobrevivência.

A adoção da inteligência artificial na gestão não é uma tendência passageira, é uma virada de mentalidade. Trata-se de enxergar a tecnologia como aliada na construção de empresas mais eficientes, sustentáveis e competitivas. Começar pequeno é suficiente. O impacto vem no acúmulo de decisões mais inteligentes, processos mais ágeis e negócios mais preparados para o futuro. No fim das contas, a IA não é sobre substituir pessoas, mas sobre potencializar o que elas têm de melhor: a capacidade de pensar, criar e se reinventar.

*Aline Lefol, CEO e fundadora da IA2YOU, e Tiene Colins, consultora de IA e embaixadora da AI Brazil, atuam com Inteligência Artificial aplicada a negócios. Coautoras do livro IA para Negócios – Guia prático para pequenas e médias empresas, dedicam-se a ampliar a presença feminina no setor tecnológico, promovendo capacitação, pesquisa e iniciativas que unem inovação e estratégia empresarial.