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Quando o excesso de trabalho adoece uma nação — o alerta do burnout corporativo

Reduzir a jornada é uma questão de saúde pública e produtividade

Na década de 1970, a psicóloga Christina Maslach, da Universidade da Califórnia, buscava entender como as pessoas lidavam com emoções intensas no trabalho. Entrevistando enfermeiros, professores, bombeiros e assistentes sociais, identificou um padrão alarmante: muitos profissionais, mesmo vocacionados, chegavam a um estado de esgotamento profundo. Dessa observação nasceu o conceito de burnout, hoje reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma síndrome resultante do estresse crônico no ambiente laboral.

Cinquenta anos depois, as conclusões de Maslach permanecem atuais. Em um mundo hiperconectado, as longas jornadas voltaram a ser glorificadas. Trabalhar até tarde e estar sempre disponível se tornaram sinônimos de comprometimento. Mas o preço dessa cultura do excesso é alto — e, muitas vezes, pago com a saúde.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), jornadas acima de 55 horas semanais aumentam em 35% o risco de AVC e em 17% o risco de doenças cardíacas. No Brasil, a Fiocruz estima que mais de 30% dos afastamentos por motivo de saúde têm relação direta com o trabalho, e o burnout já é uma das principais causas de licenças médicas no país. Em 2024, foram 472 mil afastamentos por transtornos mentais, o maior número da série histórica — um salto de 134% desde 2019.

Esses números têm impacto direto na economia. Segundo a OIT, doenças e acidentes de trabalho custam ao Brasil cerca de R$ 468 bilhões por ano, considerando perdas de produtividade e gastos previdenciários. Entre 2012 e 2020, o país acumulou 5,6 milhões de registros de doenças e acidentes de trabalho, com custos estimados em R$ 100 bilhões apenas em despesas diretas. Ou seja: o trabalho excessivo não apenas destrói a saúde do trabalhador, mas também corrói silenciosamente as bases econômicas e sociais do país.

O corpo humano não é uma máquina. Quando o ritmo ultrapassa o limite fisiológico, surgem doenças silenciosas: insônia, ansiedade, hipertensão, depressão e fadiga extrema. No setor de serviços e comércio, esses sintomas já são visíveis. Um levantamento nacional indica que o índice de adoecimento mental nesses segmentos cresceu 170% nos últimos anos, impulsionado por jornadas exaustivas e metas cada vez mais agressivas.

Em São Paulo, o cenário é ainda mais preocupante. Cerca de 93% dos trabalhadores do comércio varejista cumprem jornadas acima de 40 horas semanais — muitas vezes, sem contrapartida econômica. Além disso, um em cada quatro trabalhadores na capital paulista gasta entre uma e duas horas apenas no deslocamento diário, o que amplia o desgaste físico e emocional. Ou seja: mesmo quando o expediente termina, o cansaço continua.

Defender a redução da jornada de trabalho não é um capricho sindical, mas uma medida de saúde pública e de produtividade inteligente. Experiências internacionais comprovam que trabalhar menos pode significar trabalhar melhor. Países como Islândia, Reino Unido e Espanha testaram a semana de quatro dias e constataram aumento de produtividade, redução do estresse e melhora no equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

No Brasil, é hora de retomar esse debate sob uma nova ótica: qual o custo real de uma jornada extenuante para o país? A perda de produtividade associada ao adoecimento, somada aos gastos com saúde e aos afastamentos previdenciários, mostra que prolongar a carga horária é um falso ganho. A economia pode crescer em números, mas regride em humanidade.

Em tempos em que se fala tanto em inovação, vale lembrar que a inovação também começa pela forma como organizamos o tempo. Um trabalhador saudável, descansado e valorizado é mais produtivo, criativo e engajado. Há 50 anos, Christina Maslach nos mostrou que nenhum sistema produtivo é sustentável quando ignora a saúde de quem o sustenta. O Brasil precisa ouvir essa lição — e transformá-la em política pública.

*Lourival Figueiredo Melo é dirigente sindical e presidente da Federação dos Empregados de Agentes Autônomos do Comércio do Estado de SP (FEAAC) e Secretário-Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC).


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