Seguro Viagem: Proteção essencial pouco conhecida pelos brasileiros
A importância do seguro viagem vai muito além de uma simples formalidade burocrática. Trata-se de uma proteção fundamental contra custos médicos que podem facilmente superar centenas de milhares de reais
Suely Tamiko Maeoka
O sonho de viajar para o exterior move milhões de brasileiros todos os anos. Seja para conhecer as belezas da Europa, explorar os parques americanos ou descobrir culturas asiáticas, o turismo internacional cresceu exponencialmente nas últimas décadas. No entanto, uma realidade preocupante persiste: apenas 30% dos viajantes brasileiros contratam seguro viagem, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Esta estatística revela uma vulnerabilidade alarmante que pode transformar a viagem dos sonhos no pior pesadelo financeiro de uma família.
Desta forma, a importância do seguro viagem vai muito além de uma simples formalidade burocrática. Trata-se de uma proteção fundamental contra custos médicos que podem facilmente superar centenas de milhares de reais. Para compreender a dimensão deste problema, basta analisar os custos médicos praticados nos principais destinos turísticos mundiais, conforme dados compilados pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNseg). Nos Estados Unidos, conforme informações contidas no site – club.thefloridalounge.com, uma consulta médica de emergência pode custar entre US$ 500 (quinhentos dólares) e US$ 1.500 (mil e quinhentos dólares), enquanto uma diária de UTI varia de US$ 3.000 (três mil dólares) a US$ 10.000 (dez mil dólares). Na Europa, mesmo com sistemas de saúde públicos, o atendimento a turistas frequentemente ocorre em hospitais privados, onde uma internação pode custar entre €800 (oitocentos euros) e €2.500 (dois mil e quinhentos euros) por dia, informação retirada do blog: www.vitalcard.com.br.
Os casos reais documentados revelam histórias que poderiam ter sido evitadas com um investimento mínimo. Segundo dados oficiais do Consulado Brasileiro, em Zurich – Relatório Anual de 2022, foi registrado o caso de um empresário de 45 anos que sofreu um acidente de esqui em St. Moritz. O custo total do tratamento atingiu CHF 85.000 (oitenta e cinco mil francos suíços), equivalente a aproximadamente R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais). A família precisou contratar um empréstimo com garantia imobiliária e levou sete anos para quitar a dívida. Este caso ilustra perfeitamente como uma emergência médica pode comprometer décadas de planejamento financeiro familiar.
Um caso recente, que ganhou repercussão nacional foi o da brasileira que sofreu uma queda fatal durante uma trilha em uma montanha na Indonésia. A família enfrentou desafios significativos para a repatriação do corpo, incluindo custos elevados e a necessidade de mobilizar recursos próprios e buscar auxílio das autoridades brasileiras. O processo de traslado funerário da Indonésia para o Brasil custou mais de US$ 120.000 (cento e vinte mil dólares), incluindo preparação do corpo, documentação consular, transporte especializado e todos os procedimentos burocráticos necessários. Este caso ilustra como acidentes em destinos remotos podem gerar custos exponencialmente maiores devido às dificuldades logísticas de repatriação, além do sofrimento emocional de lidar com a perda em território estrangeiro.
Por outro lado, os casos de sucesso demonstram a efetividade do seguro viagem e, incluem o a história de um estudante que desenvolveu apendicite aguda em Tóquio, ocorrência relatada pela Allianz Travel em seu Relatório de Sinistros de 2023. O estudante teve um custo real do tratamento de ¥ 3.200.000 (três milhões e duzentos mil ienes), aproximadamente R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais), mas, o estudante havia pago apenas R$ 180,00 (duzentos e oitenta reais) por um seguro de sete dias. Toda a despesa foi coberta, incluindo tradução médica e acompanhamento familiar. Este exemplo ilustra um retorno sobre investimento superior a 60.000% (sessenta mil por cento, demonstrando que o seguro viagem pode ser um dos melhores investimentos que uma pessoa pode fazer.
Um caso de sucesso igualmente impressionante, relatado no Boletim Técnico Anual de 2023, da SulAmérica Seguros, envolveu um mergulhador brasileiro que sofreu embolia gasosa durante um mergulho recreativo nas Maldivas. A condição exigiu tratamento médico imediato em câmara hiperbárica e posterior repatriação médica para continuidade do tratamento no Brasil. O custo total da operação foi de US$ 120.000 (cento e vinte mil dólares), mas o viajante havia contratado um seguro de apenas R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) para 10 dias de viagem. Além da cobertura completa dos custos médicos, o seguro providenciou acompanhamento médico especializado durante todo o transporte e garantiu a continuidade do tratamento no Brasil, resultando em recuperação completa sem qualquer impacto financeiro para a família.
Durante a pandemia de COVID-19, os seguros viagem também provaram sua relevância de forma ainda mais evidente. Foi documentado pela Análise de Sinistro COVID-19 (Relatório Especial) de 2022, da Porto Seguro, o caso de uma família que ficou retida na Itália durante um surto do vírus. Os custos evitados totalizaram €28.000 (vinte e oito mil euros), incluindo extensão de hospedagem por 25 dias, 12 testes PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), medicamentos, consultas médicas e remarcação de voos. O valor pago pela família foi de apenas R$ 320,00 (trezentos e vinte reais) para cobertura de 15 dias para quatro pessoas. Sem o seguro, esta família teria enfrentado um prejuízo de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).
A análise comparativa de custos revela a dimensão do problema, os quais são compilações de dados da SUSEP, CNseg e seguradoras do ano de 2023 referentes aos custos médios no exterior. Nos Estados Unidos, o custo médio de um seguro viagem para sete dias varia entre R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) e R$ 300,00 (trezentos reais), enquanto o custo médico de uma emergência médica é de US$ 25.000,00 (vinte e cinco mil dólares). Na Europa, um seguro custa entre R$ 100,00 (cem reais) e R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), mas uma emergência médica pode facilmente atingir €15.000 (quinze mil euros). Na Ásia, onde destinos como Indonésia, Tailândia e Filipinas têm se tornado cada vez mais populares entre brasileiros, os custos de repatriação podem ser ainda mais elevados devido às distâncias e complexidades logísticas. Estes números representam um retorno sobre investimento potencial que pode superar 40.000% (quarenta mil por cento), tornando o seguro viagem um dos investimentos com melhor custo-benefício disponíveis.
A questão legal também não pode ser ignorada. Desde 2004, o Tratado de Schengen exige seguro viagem com cobertura mínima de €30.000 (trinta mil euros) para entrada em 26 países europeus. Dados oficiais mostram que 15% (quinze por cento) dos brasileiros são barrados na imigração europeia por não apresentar seguro adequado. Outros destinos como Cuba e Venezuela também tornaram o seguro obrigatório, com coberturas mínimas de US$ 10.000 (dez mil dólares) e US$ 40.000 (quarenta mil dólares), respectivamente.
O mercado brasileiro de seguros viagem tem respondido positivamente à crescente conscientização sobre estes riscos. Em 2024, o setor arrecadou R$ 965 milhões em prêmios, representando um crescimento de 13,11% (treze vírgula onze por cento) em relação ao ano anterior. Nos primeiros quatro meses de 2025, a contratação de seguros viagem por brasileiros cresceu 14% (quatorze por cento), acompanhando o aumento de 15,8% (quinze vírgula oito por cento) no número de passageiros em voos internacionais no mesmo período. Este crescimento contínuo reflete uma mudança de mentalidade dos viajantes brasileiros, que passam a compreender que o seguro viagem não é um gasto desnecessário, mas um investimento essencial para garantir segurança e tranquilidade durante suas viagens.
Os dados apresentados são provenientes do IRB+Inteligência, uma plataforma desenvolvida pelo IRB(Re) que oferece análises detalhadas e dados atualizados sobre o mercado brasileiro de seguros e resseguros. A plataforma consolida informações públicas disponibilizadas pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), permitindo consultas dinâmicas e segmentadas por linhas de negócio, com foco nas operações de danos, responsabilidades e pessoas.
Acompanhando essa evolução positiva do mercado, as seguradoras têm expandido suas coberturas para atender às novas demandas dos viajantes. Segundo dados do setor, atualmente 85% (oitenta e cinco por cento) das empresas oferecem serviços de telemedicina, permitindo consultas médicas remotas durante a viagem. Além disso, novas coberturas para cancelamento de viagens devido a epidemias foram criadas após a experiência da COVID-19. Observa-se também um crescimento de 40% (quarenta por cento) na demanda por seguros que cobrem esportes radicais e atividades de aventura. Até mesmo os nômades digitais, profissionais que trabalham remotamente enquanto viajam, já contam com seguros específicos desenvolvidos para suas necessidades particulares.
E ainda, os dados estatísticos da SUSEP revelam informações importantes sobre a sinistralidade por destino. Os Estados Unidos lideram com 28% dos casos de acionamento de seguro, seguidos pela França (15%), Itália (12%), Espanha (10%) e Reino Unido (8%). Destinos asiáticos como Tailândia, Indonésia e Filipinas têm apresentado crescimento significativo nos acionamentos, representando atualmente 12% dos casos, especialmente relacionados a acidentes durante atividades de aventura e esportes aquáticos. Estes números refletem tanto o volume de viajantes brasileiros para estes destinos, quanto os custos elevados dos sistemas de saúde locais e as complexidades logísticas de repatriação.
A evolução tecnológica também tem impactado positivamente o setor. Aplicativos móveis permitem acionamento imediato dos seguros, geolocalização para envio de socorro e até mesmo consultas médicas por vídeo. Estas facilidades têm reduzido significativamente o tempo de resposta em emergências, que atualmente é de menos de 2 horas em 90% dos casos documentados.
A diferença entre uma emergência que se torna uma lembrança desagradável e uma que se transforma em trauma financeiro e emocional duradouro pode estar na simples decisão de investir em um seguro viagem adequado. Os dados apresentados demonstram que esta não é apenas uma recomendação prudente, mas uma necessidade absoluta para qualquer pessoa que deseje viajar ao exterior com responsabilidade e segurança. Em um mundo onde os custos médicos internacionais continuam crescendo e os riscos de emergências permanecem constantes, o seguro viagem deixou de ser opcional para se tornar essencial.
Suely Tamiko Maeoka é advogada no Rücker Curi – Advocacia e Consultoria Jurídica.
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