Marco Regulatório das IA: O Momento Decisivo para o Setor
Por Roberto Aran, diretor de portfólio da Zenvia
O Brasil está diante de um momento histórico ao definir os rumos da inteligência artificial no País. O Projeto de Lei 2338/2023, que tramita no Congresso Nacional, não é apenas um conjunto de normas técnicas. Ele representa uma oportunidade de posicionar o Brasil como protagonista no desenvolvimento responsável da IA, conciliando inovação com a proteção de direitos fundamentais.
Na prática, isso exige cautela. Segurança é um ponto central. Hoje, milhões de dados pessoais circulam em nuvem e podem ser utilizados para treinar sistemas de inteligência artificial. O problema é que muitas pessoas ainda não sabem exatamente como essas informações são tratadas, já que cada empresa adota práticas diferentes em seu desenvolvimento. Essa falta de clareza reforça a necessidade de regras que tragam transparência e confiança.
O debate, entretanto, ultrapassa a esfera técnica. Ele envolve dimensões sociais, econômicas e éticas. O grande desafio é criar regras que evitem abusos, discriminação e violações de direitos, sem inviabilizar a inovação, o empreendedorismo e os investimentos. É esse equilíbrio que pode permitir ao País inaugurar um ciclo de desenvolvimento sustentável, no qual a tecnologia atue como ferramenta de progresso inclusivo e o ser humano permaneça no centro das decisões.
O olhar para experiências internacionais é importante, mas o marco regulatório brasileiro precisa respeitar suas próprias particularidades. É essencial que a lei trate de forma equilibrada tanto as grandes corporações quanto as startups, garantindo um ambiente competitivo justo.
Entre os pontos críticos está a definição do que são sistemas de alto risco. Em áreas como saúde e segurança pública, é indispensável exigir supervisão mais rígida, com transparência, explicabilidade e possibilidade de revisão humana de decisões automatizadas. Isso assegura proteção sem impor barreiras desnecessárias em usos de menor impacto.
Outro aspecto fundamental é a integração da inteligência artificial à Lei Geral de Proteção de Dados. Apenas com essa coerência regulatória será possível fortalecer a confiança no ambiente digital, condição indispensável para atrair investimentos estrangeiros e impulsionar o ecossistema de tecnologia no Brasil.
Da mesma forma, as responsabilidades precisam estar claramente definidas entre empresas, desenvolvedores e usuários. A existência de mecanismos de auditoria e contestação de decisões automatizadas é um caminho para promover transparência e beneficiar tanto consumidores quanto negócios comprometidos com práticas éticas.
Permanece em aberto a questão sobre quem deve fiscalizar a aplicação da lei. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados surge como candidata natural, mas também se discute a criação de um modelo de governança compartilhada ou até mesmo de uma estrutura dedicada especificamente à inteligência artificial.
O que não pode ser esquecido é que este é um momento estratégico para o Brasil. O País tem condições de construir uma regulação que seja referência para outras nações em desenvolvimento. Para que isso aconteça, será necessário manter um diálogo contínuo entre governo, setor privado, academia e sociedade civil. Assim, a inteligência artificial poderá cumprir plenamente seu papel de servir ao progresso humano de forma ética, inclusiva e sustentável.
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