Fora do Escritório: Experiências Fora do Ambiente Corporativo Fortalecem Líderes

Quando buscou uma experiência fora do escritório da Coexpan Sul, Giovanna Rossetto, gerente de RH da companhia, já tinha algo em mente, que era promover maior integração entre as equipes de liderança do Brasil e do Chile. Apesar de trabalharem para os mesmos clientes, os executivos raramente tinham contato presencial. A solução não veio de reuniões em hotéis nem de longas videoconferências, mas sim de uma vivência fora do escritório, em meio à natureza e, curiosamente, ao lado de cavalos.

“Queríamos algo diferente, que realmente tirasse nossos gestores da rotina e os colocassem em um ambiente de conexão genuína”, lembra Giovanna. Foi assim que a Coexpan levou 18 líderes das duas operações para o Centro de Treinamento Executivo Bosque Belo. A escolha também teve um componente simbólico, pois o próprio diretor da empresa é apaixonado por cavalos, o que reforçou a identificação com a experiência.

Durante dois dias e meio de imersão, gerentes comerciais, de operações, de qualidade e de RH participaram de atividades coletivas que estimularam comunicação clara, feedback assertivo e confiança. A presença dos cavalos ajudou a “baixar a guarda” dos participantes, derrubar barreiras linguísticas e encorajar conversas mais profundas.

“Até quem tinha medo do animal acabou relaxando. A conexão com a natureza e com os cavalos nos ajudou a refletir sobre liderança de uma forma prática: não basta querer que a equipe execute uma tarefa, é preciso estar presente, estabelecer conexão e confiança”, explica a executiva de RH. A retirada dos celulares durante a vivência também teve impacto. “No começo, alguns líderes ficaram angustiados, mas logo perceberam que a ausência da internet abria espaço para escuta ativa e criatividade. Foi um ponto de virada”, conta.

Impacto duradouro

Após a experiência offsite, o resultado foi percebido imediatamente, com maior integração entre as plantas do Brasil e Chile, comunicação mais fluida e colaboração mais efetiva no atendimento aos clientes. Na ocasião, um vídeo com registros da experiência chegou a ser apresentado a C-Levels da companhia, que ouviram dos próprios gestores palavras como “transformador”, “profundo” e “impactante”.

A experiência rendeu aprendizados práticos, como equilibrar pressão e presença, exercitar a escuta, reconhecer o impacto de cada comunicação e valorizar o relacionamento humano como parte essencial da gestão. “Hoje, em cima da mesa de todos os líderes que participaram, há um cavalinho de lembrança. É um símbolo de que aquela vivência marcou e continua reverberando no dia a dia”, conta Giovanna.

Tendência estratégica

Especialistas apontam que experiências fora do ambiente corporativo, antes vistas como benefícios pontuais, hoje ganham status de estratégia corporativa. Ao estimular vulnerabilidade, empatia e inteligência emocional em ambientes fora da rotina, empresas têm conseguido preparar líderes para desafios que vão muito além de indicadores e planilhas.

“Nosso trabalho é criar situações em que o líder saia do controle automático e se veja em contextos que exigem presença genuína. Quando estão em uma atividade com cavalos, por exemplo, não há como enganar: o animal só responde se sentir confiança e coerência no comportamento do líder”, explica Nathalia Gottheiner, fundadora do Centro de Treinamento Executivo Bosque Belo.

Criadora do método de doma consciente, Nathalia - que atende grupos de líderes de empresas como O Boticário, Itaú, Nestlé e John Deere na Fazenda Bosque Belo, a apenas 1h30 de São Paulo, em Boituva - ensina líderes e equipes a vivenciarem uma experiência no campo, onde os cavalos atuam como espelhos emocionais da liderança consciente. A metodologia combina doma consciente, neurociência, mindfulness e comunicação não verbal para promover transformações que vão além do team building, resgatando valores como empatia, escuta ativa, cooperação e inteligência emocional.

Segundo a empresária, as imersões combinam práticas em ambientes naturais, dinâmicas simbólicas e momentos de reflexão guiada. “As pessoas chegam acostumadas a falar de metas, números e prazos, mas descobrem que liderança também é escuta, é coerência entre discurso e prática. O que mais ouvimos dos participantes é que voltam para suas empresas diferentes, mais conscientes de como sua presença impacta os outros”, reforça.

Para Nathalia, experiências assim são um antídoto contra a superficialidade da liderança moderna. “Não se trata de desconectar do mundo, mas de reconectar com a essência da liderança. Fora do escritório, emergem qualidades que estavam escondidas sob a rotina acelerada”, conclui.