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A lacuna da proteção: estratégias para reduzir o gap entre perdas econômicas e cobertura de seguros (Destaque)

A lacuna da proteção: estratégias para reduzir o gap entre perdas econômicas e cobertura de seguros

O desafio de ampliar a penetração do seguro em um mundo de riscos crescentes

Por Ana Carolina Mello

O setor de seguros nasce do compromisso com a proteção. No entanto, à medida que os riscos se intensificam e se transformam, cresce também uma contradição que há anos desafia seguradoras, corretores e reguladores: a distância entre o volume de perdas econômicas e o valor efetivamente coberto pelas apólices em vigor. É o chamado protection gap, ou lacuna de proteção, um tema que, mais do que estatístico, revela a incapacidade do mercado global em responder, na mesma velocidade, às novas vulnerabilidades que afetam sociedades e empresas.

Os números falam por si. Estimativas recentes do Swiss Re Institute apontam que, em 2024, o mundo registrou mais de US$ 400 bilhões em perdas ligadas a catástrofes naturais, mas apenas 18% desse total foi indenizado pelo setor de seguros. No Brasil, o exemplo mais recente e impactante foram as enchentes no Rio Grande do Sul. As perdas, estimadas em mais de R$ 70 bilhões, tiveram baixa cobertura securitária, o que expôs milhares de famílias, empreendedores e governos municipais a uma crise prolongada. Cada ponto dessa estatística representa empresas que não conseguem se reerguer, empregos que desaparecem e comunidades inteiras em estado de vulnerabilidade.

Reduzir a lacuna de proteção exige, antes de tudo, repensar o modelo atual de distribuição e desenho de produtos. Não se trata de “vender mais seguros”, mas de oferecer soluções conectadas às realidades locais e setoriais. Instrumentos como o seguro paramétrico ganham espaço ao permitir gatilhos automáticos de indenização baseados em índices objetivos, como volume de chuva ou intensidade de vento, acelerando pagamentos e simplificando processos em contextos de catástrofe. Essa abordagem, que já é adotada em outros mercados, poderia ampliar a penetração do seguro em regiões mais expostas e com menor acesso às modalidades tradicionais.

Outro vetor é a educação em seguros. Ainda predomina, em diversos segmentos, a percepção de que o seguro é apenas custo, e não proteção estratégica. Essa visão restritiva alimenta a lacuna de proteção e limita o alcance social do setor. Corretores, seguradoras e resseguradores precisam assumir o papel de tradutores de risco, comunicando em linguagem clara e acessível como as apólices funcionam, quais problemas resolvem e por que são essenciais para garantir resiliência em situações críticas.

A tecnologia, por sua vez, amplia os horizontes. Plataformas digitais democratizam o acesso, viabilizando produtos com menor custo de distribuição e maior personalização. O uso de sensores, dados climáticos em tempo real e inteligência artificial abre caminho para modelos de subscrição mais precisos e inclusivos, que podem reduzir custos e ampliar a cobertura de públicos tradicionalmente negligenciados. Essa é uma fronteira promissora, mas que depende de investimento consistente e de regulação adaptada à inovação.

O ambiente regulatório, aliás, é peça-chave para enfrentar o protection gap. Cabe às autoridades criar mecanismos que incentivem a inovação e ao mesmo tempo preservem a solvência e a confiança no sistema. Reguladores podem fomentar a criação de novos produtos, estimular parcerias público-privadas para proteção de infraestruturas críticas e ampliar os incentivos à inclusão securitária. Sem esse equilíbrio, a lacuna tende a se expandir, com custos sociais cada vez mais altos.

O que está em jogo não é apenas a saúde financeira do setor, mas a própria capacidade de o seguro se consolidar como ferramenta de desenvolvimento econômico e social. Cada ponto percentual de aumento na penetração de seguros representa menos dependência de recursos públicos em desastres, maior capacidade de recuperação para empresas e famílias e mais estabilidade para a economia como um todo.

Concluir que o desafio é grande é insuficiente. O verdadeiro chamado é para a ação coordenada. Corretores precisam assumir protagonismo como consultores de risco, seguradoras devem acelerar o ritmo da inovação, resseguradores têm de compartilhar conhecimento técnico global e reguladores precisam abrir espaço para novas soluções. Fechar a lacuna de proteção é uma tarefa coletiva.

Talvez a pergunta que deva guiar o setor daqui em diante não seja “como vender mais seguros”, mas sim “como garantir que menos perdas fiquem descobertas”. A resposta passa por ousadia, colaboração e visão de longo prazo. Porque, no fim das contas, reduzir o protection gap não é apenas uma questão de negócios. É a oportunidade de reafirmar o seguro como instrumento essencial para proteger não apenas ativos, mas o próprio desenvolvimento da sociedade.

Ana Carolina Mello é sócia-diretora da Avanza. Com mais de 30 anos de atuação no setor, é especialista em inovação e no desenvolvimento de profissionais para o mercado de seguros.


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