Fusões e aquisições: o dinamismo no setor de saúde no Brasil
Por David Denton, especialista em M&A e sócio da OKTO FINANCE*
O setor de saúde no Brasil tem se consolidado como um dos mais dinâmicos da economia nacional. Segundo levantamento da KPMG, entre 2003 e 2023 foram registradas 817 transações de fusões e aquisições (M&A), posicionando o segmento entre os dez mais ativos do país. Apenas nos últimos anos, cerca de 500 dessas operações geraram um faturamento conjunto próximo de R$ 90 bilhões, resultando em uma impressionante média de uma transação a cada nove dias. Esses números revelam não apenas o interesse crescente de investidores, mas também a maturidade de um setor que combina relevância social e potencial econômico.
Mesmo com incertezas macroeconômicas, juros elevados e inflação, o setor de saúde apresentou forte reação. No primeiro trimestre de 2025, por exemplo, houve um crescimento de 80% no número de operações em hospitais e laboratórios em comparação ao mesmo período de 2024, segundo levantamento realizado pela KPMG. O setor respondeu por cerca de 8% do volume global de transações de M&A e 10,7% dos valores globais movimentados, de acordo com dados publicados pelo portal Plurall. A expectativa é que o mercado continue aquecido nos próximos anos, especialmente em razão da fragmentação ainda existente em muitas regiões, da pressão por eficiência e digitalização dos serviços e do crescimento da demanda por saúde privada, mesmo diante de desafios macroeconômicos.
O Brasil conta com mais de 200 milhões de habitantes, em processo acelerado de envelhecimento, o que amplia a demanda por serviços de saúde de qualidade. Segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), esse mercado já movimenta aproximadamente R$ 700 bilhões por ano. Não surpreende, portanto, que o setor de saúde tenha sido o terceiro com maior número de operações de M&A no Brasil em 2023, ainda de acordo com a KPMG, atrás apenas de tecnologia e serviços financeiros. Grandes grupos buscam ganhar escala, diversificar serviços e integrar diferentes elos da cadeia de valor, ao mesmo tempo em que investidores globais encontram aqui um mercado sólido, em expansão e altamente atrativo.
Três grandes tendências explicam esse movimento: consolidação, inovação e eficiência. A consolidação é um fenômeno global que fortalece empresas frente a um mercado cada vez mais regulado, além de ampliar poder de negociação com fornecedores e clientes. A inovação se impõe diante das mudanças tecnológicas, científicas e comportamentais que transformam a forma de cuidar da saúde, com avanços como telemedicina, inteligência artificial, medicina personalizada e ênfase em prevenção. Já a eficiência é exigida pelos custos crescentes, pela escassez de recursos e pela pressão por sustentabilidade financeira em um setor essencial.
As operações de M&A aceleram essa agenda ao permitir a combinação de competências, talentos e culturas, gerando sinergias que aumentam a competitividade. Também atraem capital em busca de diversificação e retornos consistentes, especialmente em um cenário global de volatilidade. Entretanto, esse processo não está livre de desafios. Fusões e aquisições no setor de saúde exigem planejamento rigoroso, governança sólida e respeito às normas de órgãos reguladores como a ANS e o Cade. Mais do que integrar estruturas, é fundamental preservar o propósito das instituições envolvidas: cuidar da vida e promover bem-estar.
A experiência da pandemia mostrou a importância da colaboração, da solidariedade e da inovação no enfrentamento de crises. O movimento de M&A deve ser entendido, portanto, não apenas como estratégia de crescimento, mas também como oportunidade de fortalecer o ecossistema de saúde brasileiro. Ao buscar escala, inovação e eficiência, as empresas do setor precisam reafirmar seu compromisso com a responsabilidade e a ética. Afinal, se há um segmento em que resultados financeiros e impacto social caminham lado a lado, esse setor é o da saúde.
*David Denton é formado em Administração de Empresas e possui MBA da Universidade de Bath. Com mais de 25 anos de experiência no mercado financeiro, já trabalhou para empresas como o Banco Real de Investimento, Deloitte & Touche, Royal Bank of Scotland e Grupo Habitasul. Também foi Membro Executivo do Comitê Internacional da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil e membro do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Relações (IBREI) e do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). É autor do livro "Navigating Cross-Border Mergers and Acquisitions: a Global Perspective" e sócio da boutique de M&A OKTO FINANCE.
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