Empresas familiares e sucessão: o que o caso Flexform revela sobre riscos
Especialista alerta que ausência de governança e instrumentos jurídicos pode transformar patrimônio em campo de batalha
A disputa judicial envolvendo o fundador da Flexform, uma das principais fabricantes de móveis corporativos do Brasil, e seus filhos, é um retrato das consequências da ausência de um planejamento sucessório sólido em empresas familiares. O conflito, que inclui suspeita de fraudes contábeis de até R$ 70 milhões, escancarou como a falta de protocolos claros pode comprometer tanto o patrimônio quanto as relações pessoais.
Com 60 anos de história e avaliada em cerca de R$ 200 milhões, a Flexform viu seu legado ser colocado em xeque. Para a advogada Jônia Barbosa de Souza, sócia da área Societária do Duarte Tonetti Advogados, situações como essa poderiam ser evitadas.
“Um planejamento sucessório adequado não apenas preserva o patrimônio como também evita o desgaste das relações familiares. Sem esse cuidado, as discussões podem colocar em risco a longevidade dos negócios”, diz.
Segundo Jônia, o desafio não se limita a aspectos jurídicos: exige também governança corporativa e clareza nos papéis de cada sucessor.
“A sucessão deve ser estratégica, com definição clara dos papéis de cada herdeiro, considerando suas aptidões. Criar um conselho familiar ou consultivo e firmar um acordo de sócios eficiente são medidas que aumentam significativamente as chances de sucesso na transição.”
Ainda assim, muitas famílias empresárias resistem a discutir o tema. O receio de atritos internos costuma adiar uma decisão que, inevitavelmente, precisará ser tomada.
“Observamos que ainda há resistência quando se fala em sucessão. Mas tratá-la em vida é sempre menos doloroso. Além das vantagens financeiras, o maior benefício está na tranquilidade e na manutenção da harmonia familiar”, destaca a especialista.
O caso Flexform se soma a outros exemplos recentes de embates societários no país e reforça uma tendência: empresas que negligenciam o planejamento sucessório tornam-se mais vulneráveis a rupturas familiares, perdas financeiras e desgaste de reputação.
Sem planejamento, até os maiores legados podem se transformar em batalhas judiciais. Para Jônia, a sucessão não deve ser vista como tabu, mas como compromisso com a continuidade do negócio e a harmonia da família.
Sobre a especialista
Jônia Barbosa de Souza é advogada e sócia da área Societária e de M&A do Duarte Tonetti Advogados. Especialista em Direito Societário e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV-SP, atua na reestruturação e regularização de empresas, além da implementação de práticas de governança e planejamento estratégico.
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