Viola Davis nasceu sem nenhuma perspectiva de vencer na vida. Filha de uma infância marcada pela pobreza, pela fome, pelo alcoolismo e pelo abuso sexual, parecia destinada a seguir o mesmo caminho que tantas outras pessoas da sua cor e origem: a violência, o desamparo e a invisibilidade. Mas, em vez de deixar que essas feridas a definissem, ela as transformou em força. Em Em Busca de Mim, sua autobiografia emocionante, a atriz e produtora vencedora do Oscar abre as portas de sua história, mostrando como cada cicatriz se converteu em combustível para construir personagens intensas, humanas e profundamente reais.

A leitura é, ao mesmo tempo, dolorosa e inspiradora. Conhecer os abalos que atravessaram a vida de Viola é perceber o quanto a arte pode nascer do sofrimento, e o quanto a coragem de não se deixar aniquilar é um ato de resistência. Ela mesma sabe, com a lucidez de quem viveu por dentro, que o destino reservado à imensa maioria das pessoas como ela costuma ser implacável. Ainda assim, sua trajetória prova que o peso da representatividade vai além de premiações ou da fama: é a prova viva de que caminhos improváveis podem ser reescritos.

E é justamente por isso que ler sua narrativa é tão arrebatador. Quem olha hoje para o brilho e o glamour da estrela talvez nunca imagine o quanto foi difícil chegar até ali, e, principalmente, se manter. Só ao mergulhar em suas memórias é possível compreender o quanto suas vitórias não têm nada a ver com sorte, mas com determinação, talento e a coragem de abrir portas para outras mulheres negras que vieram depois dela.

Em Busca de Mim não é apenas um livro sobre uma atriz consagrada. É sobre dor transformada em arte, sobre resiliência diante do impossível e sobre a mudança que começa quando alguém ousa acreditar em si mesmo. É também o primeiro passo da transformação de toda a família Davis, e, ao mesmo tempo, um convite para o leitor refletir sobre sua própria força. Viola, cuja vida foi marcada por profundos traumas, hoje dança com sua vergonha.