Futuro dos negócios em um mundo multipolar sem dominância de uma única moeda (Destaque)
David Brito, country manager do Ebury Bank no Brasil, comenta sobre o processo de desdolarização
O futuro dos negócios internacionais é de um mundo multipolar, sem que uma única moeda domine o cenário global. A desdolarização é um fenômeno que vem ganhando força em meio às transformações geopolíticas, econômicas e tecnológicas do cenário global. Embora o dólar americano ainda domine o comércio internacional, as reservas cambiais e os fluxos financeiros, a crescente diversificação para outras moedas, como o euro, o yuan e até mesmo moedas locais, aponta para uma reconfiguração em curso no sistema monetário internacional.
O enfraquecimento relativo do dólar não se dá por uma perda de confiança imediata, mas por um movimento estratégico de países e empresas diante dos riscos concentrados em uma única moeda. A centralização do comércio e das finanças globais no dólar sempre representou uma vantagem para os Estados Unidos, mas também uma vulnerabilidade para os demais atores. A imposição de tarifas, as sanções unilaterais e o aumento do isolacionismo americano aceleraram essa busca por alternativas. Nesse contexto, surgem propostas como o BRICS Pay, sistemas de pagamento locais, e iniciativas de liquidação em moeda própria entre nações emergentes. Essa descentralização é um caminho natural diante da evolução da ordem global para um mundo multipolar.
Além dos aspectos geopolíticos, a transformação é movida também por eficiência e autonomia econômica. A nova infraestrutura tecnológica permite transações mais rápidas e baratas sem o envolvimento da estrutura bancária americana ou da rede SWIFT. Empresas que atuam internacionalmente, sobretudo as pequenas e médias, já sentem os impactos práticos — seja na volatilidade cambial, nos custos de conversão ou na complexidade de operar com múltiplas moedas. A adoção de uma mentalidade multimoeda deixou de ser opcional e passou a ser estratégica.
No entanto, é preciso cautela: a desdolarização não significa, ao menos por ora, o fim do dólar como principal moeda global. O processo é gradual, adaptativo e depende de múltiplos fatores — desde a robustez das moedas alternativas até a estabilidade macroeconômica dos países que desejam oferecer essa nova referência. Ainda assim, a tendência é clara e inevitável: o mundo caminha para uma redistribuição de poder monetário, e as empresas que anteciparem essa mudança estarão em posição privilegiada para reduzir riscos e ampliar oportunidades.
Portanto, mais do que uma ameaça, a desdolarização deve ser encarada como um convite à modernização das estratégias financeiras e operacionais. Negociar em múltiplas moedas, mapear exposições cambiais e buscar parceiros especializados em soluções internacionais são passos fundamentais para prosperar em um cenário cada vez menos centrado nos Estados Unidos — e mais conectado com uma realidade econômica diversa, digital e descentralizada.
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