Relações Sociais na Vida Adulta: Como Fortalecer Conexões Reais

Em um cenário marcado por redes digitais e rotinas aceleradas, a construção de laços significativos se torna um desafio crescente, sobretudo entre adultos. A busca por pertencimento, embora constante, exige disponibilidade emocional, escuta ativa e abertura à convivência.

“Se relacionar implica em sair do controle individual para admitir o imprevisto que habita a presença do outro. Fazer amigos não decorre de oportunidades esporádicas, mas da construção consciente de espaços seguros de troca”, observa a psicóloga Maria Klien.

A chamada “bateria social”, desgastada no período de isolamento da pandemia, ainda impacta os modos de convívio. Muitas pessoas relatam esgotamento após eventos sociais ou sentem-se distantes de vínculos que antes pareciam estáveis. No entanto, o afastamento físico acentuou a percepção da solidão como uma condição que, mais do que emocional, também adoece o corpo.

“O isolamento não nos privou apenas do encontro, mas também da plasticidade afetiva. Retomar a convivência exige treino, como qualquer outro hábito. É preciso se reaprender a estar com as pessoas”, afirma Klien.

A construção de amizades na vida adulta costuma esbarrar em padrões rígidos, exigências silenciosas e uma busca por compatibilidades quase absolutas. De acordo com Klien, essa seletividade, embora compreensível diante de experiências pregressas, pode limitar o campo das possibilidades.

“Não é necessário que o outro nos espelhe para que o vínculo seja verdadeiro. Amizades também se tecem nas diferenças, desde que haja interesse genuíno e respeito mútuo. A curiosidade pelo que o outro vive é um ponto de partida mais potente do que a afinidade imediata”, explica a psicóloga.

Entre os principais obstáculos está a impaciência para cultivar relações. Os vínculos mais sólidos não se formam instantaneamente, e a ausência de resultados rápidos pode desestimular tentativas de aproximação.

“Vivemos sob a lógica da eficiência, até mesmo no afeto. Mas relações humanas não obedecem a cronogramas. É necessário suportar a incompletude dos começos, aceitar os silêncios e sustentar a continuidade da presença”, destaca.

Diante disso, repensar a qualidade das interações passa a ser fundamental. Criar ambientes que estimulem o diálogo autêntico, longe das mediações constantes de telas e notificações, pode favorecer novas conexões. Pequenos gestos cotidianos — como frequentar um mesmo espaço com regularidade, engajar-se em atividades coletivas ou demonstrar interesse por colegas de trabalho — ampliam as possibilidades de encontro.

A disponibilidade para se aproximar de desconhecidos demanda também uma revisão interna de expectativas. “O outro nunca será inteiramente compreensível ou previsível. O que se pode construir é uma ética da escuta, um desejo real de partilhar tempo, espaço e humanidade. Amizade é uma forma de se comprometer com a existência do outro, mesmo sem garantias”, conclui Maria Klien.

Embora as redes sociais facilitem o acesso à vida alheia, elas não substituem a profundidade das experiências compartilhadas no cotidiano. A ilusão de proximidade, produzida por curtidas e comentários, mascara a ausência de vínculos autênticos. Recuperar a presença real — com suas falhas, interrupções e improvisos — é um dos caminhos possíveis para resgatar a intimidade nas relações adultas.

O fortalecimento da saúde social não depende apenas de políticas públicas ou iniciativas institucionais. Ele se manifesta também nas escolhas individuais, no empenho em sair da zona de conforto e na decisão de se deixar afetar pela alteridade. Afinal, amizades adultas não são um resquício do passado, mas uma possibilidade presente para quem decide construir presença e vínculo no agora.

Sobre Maria Klien

Maria Klien exerce a psicologia, se orientando pela investigação dos distúrbios ligados ao medo e à ansiedade. Sua atuação clínica integra métodos tradicionais e práticas complementares, visando atender às necessidades emocionais dos indivíduos em seus universos particulares. Como empreendedora, empenha-se em ampliar a oferta de recursos terapêuticos que favorecem a saúde psíquica, promovendo instrumentos destinados ao equilíbrio mental e ao enfrentamento de questões que afetam o bem-estar psicológico de cada paciente.