Rio Grande do Sul : No campo da reconstrução, ninguém vence a Diplomacia de Estado (Destaque)
“É preciso desataviar uma nota diplomática de todas as frases, circunlocuções, desvios, adjetivos e advérbios, para tocar a ideia capital e a intenção que lhe dá origem”. Machado de Assis
Todos os moradores do Rio Grande do Sul agradecem a ajuda que estão recebendo de empresários, brasileiros em geral, estrangeiros e OSCs - Organizações da Sociedade Civil. De fato, temos visto e agradecido por esse desprendimento em causa da dor humana. Assim, de forma geral, ainda percebemos que a solidariedade não morreu e vai se manter ativa para este grande e digno povo gaúcho. Especialmente, do setor de seguros, que não somente está colaborando com essa reconstrução, como de fato é um fator insuperável no envio de dinheiro provindo de indenizações. O setor de seguros é de fato o mais importante meio de sanar a tragédia do RS, depois das verbas de governo.
Entretanto, o contexto diz respeito à reconstrução do RS para toda a população. E para quem não imagina o drama, mais de 90% da geografia do estado foi atingida por inundações, o que é muito mais do que um problema isolado, como no caso de Brumadinho. Isto também significa que uma parte importante e produtiva do Brasil ficou arrasada, demonstrando que não é uma questão somente de ajuda humanitária, mas diz respeito ao Brasil.
Além disso, a questão é absolutamente política. No entanto, a mesma condição política de um país também trabalha com conceitos divergentes entre signatários do poder e explico: O presidente do Brasil está filiado a um partido político e o governador está filiado a outro. O pensamento de um dogma geralmente diverge da outra doutrina e assim por diante. Portanto, o que fará bem para o RS deve agregar os pensamentos de todos os entes ou da maioria que decide o que deverá ser feito e isso requer a Diplomacia de Estado.
Como ilustração, quero voltar a duas notícias que circularam em nosso território, mas sem qualquer julgamento de mérito, apenas para trabalhar a questão de Diplomacia de Estado: um certo prefeito, provavelmente indignado com os valores prometidos ou já recebidos, resolveu gravar em vídeo a conversa que estava ocorrendo com um Ministro de Estado. No entanto, essa gravação foi divulgada sob os mais variados contextos negativos. Sem perceber o resultado, imagino, o que o prefeito desejava com a gravação seria talvez um aumento de valores para cobrir os estragos de seu município. Porém, o que aconteceu foi que o próprio estado do RS retirou a cidade do decreto de calamidade, enquanto ainda havia uma promessa de ajuda do Governo Federal. Talvez, momentaneamente, o que era R$ 300 mil virou R$ 0,00. Portanto, as discussões aqui são: o ato do prefeito ajudou ou prejudicou o município? A diplomacia do prefeito conseguiu que tipo de resultado para o povo da cidade? E onde acertou ou errou? Entretanto, no segundo caso, no mesmo rincão gaúcho, o governador do estado disse que errou em uma declaração, através de um pedido de desculpa; declaração que teve grande repercussão negativa. Enfim, tenho certeza que os dois não tiveram a intenção de errar ou ofender, mas os casos tiveram suas consequências de imagem para os dois governantes. Felizmente, o governador reconheceu seu erro e pediu desculpas, em redundância.
Convictamente, não estou aqui para responder essas perguntas sob prisma de qualquer lado político. O que eu quero transmitir aqui é a absoluta necessidade do papel do Estado na reconstrução do nosso canto. O nosso povo sofre. O nosso povo está sem moradia. O nosso povo, que alimenta o mundo, está sem alimento. O nosso povo carece das coisas mais básicas. O nosso povo vive em lágrimas. Imagine quanta carência? Imagine quanta vergonha? Um povo com tantas origens, com tanta sabedoria e com tanta educação, que está a mercê de ajuda. Isto é forte para ele, o povo gaúcho. Isto é novo, como para o Brasil a tragédia é inédita nesta proporção. Isto é uma vivência que beira o estado na degradação. Isso envolve somas de muito volume ou até mesmo de empréstimos internacionais, para fazer voltar ao estado que se vivia antes da tragédia. Não será com pouco, nem com esquecimento que o povo gaúcho enfrentará sua dor.
A Diplomacia de Estado não é somente o momento dos embaixadores. E o embaixador não é somente o que pratica em Embaixada. A Diplomacia de Estado é a perene decisão de conter palavras e contar palavras. A Diploacia de Estado é uma razão para a reconstrução, ou seu ente mais desejado entre pensamentos díspares. Por isso, todo político deve ter cautela com suas palavra. A Diplomacia de Estado é uma das maiores necessidades vigentes para reconstruirmos o Rio Grande do Sul, simplesmente porque o RS será reconstruído por ele próprio e pelo governo Federal, que tem a primazia da Diplomacia de Estado. E um governo depende do outro para resolver seus casos.
Armando Luís Francisco
Jornalista
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