GFIA: “É preciso proteger a sociedade de riscos futuros e as seguradoras podem ajudar”
A Federação Global de Associações de Seguros (GFIA, na sigla em inglês), que representa as associações de seguradoras do mundo, passa por uma troca de comando, que será anunciada, possivelmente, nesta quarta-feira. Don Forgeron, que encerra seu mandato, esteve reunido com Dyogo de Oliveira, presidente da CNseg, a confederação nacional das seguradoras do Brasil, e com Antonio Trindade, presidente da Fenseg, federação que cuida do segmento de seguros patrimoniais e de responsabilidade civil, conhecido mundialmente pelo termo Property&Casulty (P&C) nesta terça-feira, em Santiago, Chile, onde acontece uma série de eventos do setor de seguros.
Oliveira atualizou Forgeron sobre o cenário brasileiro do mercado de seguros. Neste ano, o setor de seguros gerais arrecadou R$ 265,1 bilhões no acumulado até setembro, o que representa alta de 18,2% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Don Forgeron ficou surpreso com o crescimento do setor, sendo o maior volume proveniente de compras espontâneas e não de seguros obrigatórios, como em boa parte dos países desenvolvidos.
O presidente da GFIA também indagou se este aumento no volume de receita arrecadada veio da ampliação da base de segurados ou do incremento de preços para aqueles que já tem o hábito de investir em proteções. “Tivemos um reajuste do seguro para compensar perdas. Ainda registramos um cenário de perda de poder aquisitivo da população e desemprego, mas estamos confiantes da melhora destes indicadores já em 2023”, afirmou o presidente da CNseg.
As indenizações acumuladas somaram R$ 166,6 bilhões até setembro deste ano, 19,7% acima ao registrado no mesmo período de 2021, sem considerar o segmento de saúde. A maior parte das indenizações foram pagas em seguro de vida e previdência, com R$ 89,9 bilhões. Danos e responsabilidades totalizaram R$ 45,6 bilhões, com seguros de automóveis e rural na liderança das perdas, sendo automóvel impactado pela inflação e rural pelas mudanças climáticas. “Mesmo com o significativo aumento das indenizações, temos um setor saudável e solvente”, afirmou Oliveira. Forgeron bateu três veze na mesa de madeira, num sinal de “que de que a boa sorte prossiga ao setor brasileiro”.
A GFIA, uma associação sem fins, tem como objetivo fazer representações aos governos nacionais, reguladores internacionais e outros em nome do mercado segurador mundial. Com 40 instituições associadas, entre elas a CNseg, a GFIA representa cerca de 89% dos US$ 4 trilhoes de vendas de seguros no mundo. Isso já dá um sinal da importância do apoio da GFIA ao evento Fides Rio 2023 que a CNseg prepara para setembro do próximo ano e que tem uma grande pauta internacional e tendencias mundiais.
Uma das pautas é lacuna de proteção. A GFIA encomendou um estudo global abrangente que definirá e quantificará as catástrofes naturais, as ameaças cibernéticas e a aposentadoria. Ainda não se tem uma data para a finalização do estudo, mas há muitos insights. “Deixo a presidência da GFIA, mas sigo com muito trabalho para contribuir mais com os desafios do setor”, disse.
Segundo ele, o mundo precisa se adaptar a uma era de complexidade dos desafios. “Nós temos de nos adaptar para o que está por vir. Temos de cuidar do planeta, reduzir as emissões de carbono. Atualmente vários países do mundo sofrem com os impactos das mudanças climáticas. E nos temos de fazer a nossa parte para trazer mais resiliência aos governos, empresas e pessoas”, afirma.
Diversos estudos mostram que a lacuna de proteção de seguro está aumentando. Isso significa dizer que há uma maior demanda por seguro depois da pandemia, por uma consciência maior da sociedade a riscos. No entanto, há também um maior volume de indenizações pagas com mudanças climáticas e riscos cibernéticos, bem como com aposentadorias e saúde. Todos tem afetado boa parte da indústria de seguros, com desembolsos maiores de indenizações. Isso resulta em aumento do preço e cláusulas mais restritivas, que tiram o apetite do consumidor em comprar o seguro adequado. E este é um problema para os clientes, para a indústria e certamente para a saúde econômica dos países.
Reduzir esta lacuna de proteção é uma pauta do mundo. As pessoas compram muito menos do que elas provavelmente precisarão. Segundo informou a Limra em recente evento, nos EUA eles ainda estão olhando para uma lacuna de proteção de mortalidade de US$ 12 trilhões. Outros recentes estudos divulgados pela MAPFRE, pela Zurich e pela Swiss Re, revelam dados alarmantes que precisam ser melhor compreendidos pelos protagonistas de seguros.
Em eventos climáticos, a Swiss diz que o gap de proteção global foi de US$ 161 bilhões em 2021. A lógica deste problema vai além das implicações financeiras de curto prazo. Sobrecarrega cada vez mais os indivíduos e os tesouros públicos. É um fardo que provavelmente continuará a crescer nos próximos anos, especialmente em cidades em expansão e áreas densamente povoadas que estão expostas a temperaturas crescentes e precipitação mais pesada. E para muitos riscos nem seguro tem, pois as seguradoras não ofertam por ser um risco elevado.
Então, como corretores, seguradoras e resseguradores podem permanecer relevantes para seus clientes? “É preciso proteger a sociedade de riscos futuros. Quais são esses riscos? Pensar nisso certamente vai levar o setor a ofertas melhores, a diversificar coberturas e a se afastar de riscos que cobrem hoje e se tornaram catastróficos”, recomenda Forgeron.
Como avançar?
Em primeiro lugar, o setor precisa compreender completamente o escopo e a natureza dos desafios que enfrenta. No Brasil, especificamente, é preciso que primeiro elevar o poder de renda da população para que ela possa comprar bons produtos disponibilizados pelas seguradoras. Dito isso, é urgente ressaltar aos governos a importância do setor. Todos precisam se envolver mais com o despertar da consciência sobre o quanto as seguradoras podem ajudar no desenvolvimento de políticas públicas.
As seguradoras têm um papel importante que precisa de maior empenho para proteger as pessoas do risco e educá-las sobre ameaças novas e crescentes. E devem se aliar ao governo para trabalhar para fechar a lacuna de proteção por meio de parcerias. Seguro é uma ferramenta essencial, mas não é uma panaceia, principalmente em tempos de risco em evolução. Mas todos tem um papel a desempenhar.
O presidente da GFIA, um canadense, conta, em uma piada repetida em conversas: Seguro contra enchentes? Somos o único país do G7 que não tem um programa nacional de seguro contra enchentes. Mas os outros seis programas não funcionam. Brincadeira à parte, todos buscam melhorar a parceria entre o setor privado e o governo para proteger o país de perdas catastróficas. A dica que fica é que olhar os erros e os acertos de outros países pode multiplicar o impacto positivo das ideias inteligentes. Um dos cases de sucesso neste quesito é o Reino Unido.
Segundo a GFIA, um exemplo é ter melhores mapas de inundação para identificar o risco de forma mais realista. Ter mais satélites para uma melhor aplicação do subsídio agrícola. Avançar no quesito segurança com uso de tecnologia para reduzir violência, roubo e furto.
Uma notícia da COP27, realizada nesta semana, é que depois de 30 anos de impasse, os países responsáveis pela maior parte do CO2 acumulado na atmosfera aceitaram discutir os termos de uma eventual compensação financeira para o resto do planeta. A inclusão das perdas e danos climáticos, termo oficial para designar os impactos reais já causados pelo aquecimento do planeta, foi a primeira grande notícia da COP27, a cúpula climática anual da ONU, que este ano acontece no resort de Sharm el-Sheikh, no Egito, conta o portal Reset.
Juntos se vai mais longo. Quando nos reunimos e trabalhamos em parceria, nos equipamos melhor como sociedade não apenas para enfrentar o problema como para mitigá-lo.
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