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Pressa para o IPO – oportunidade ou ameaça?

Luiz Marcatti presidente da MESA Luiz Marcatti presidente da MESA

Luiz Marcatti*

O recente boom de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) no mercado brasileiro já causa algumas inquietações. A abertura de capital é um caminho natural para captação de recursos por negócios promissores, mas pode representar risco se o processo não for adequadamente trabalhado. Apenas nos dois primeiros meses deste ano foram 15 as novas listagens na B3, quase a mesma quantidade (18) da soma das operações de 2017, 2018 e 2019.

Foram cerca de R$ 10 bilhões captados nos últimos meses somente pelas empresas de tecnologia. Ajuda a explicar esse cenário a desvalorização do real frente ao dólar, fazendo com que os valores dos ativos por aqui sejam muito atraentes. Outro ponto relevante é a queda dos juros, que leva os investidores brasileiros — incluindo as pessoas físicas — a procurar alternativas fora da renda fixa. Vale lembrar que a bolsa registra hoje cerca de 3,5 milhões de CPFs de investidores.

Esse movimento de demanda por papeis abriu as portas para as startups. Desde novembro de 2020, oito delas estrearam na B3, e a expectativa é de que outras dezenas concluam operações ainda em 2021.

Para os empresários que avaliam sua entrada na Bolsa de Valores, é importante entender que o IPO não é um fim em si próprio, e sim a escolha de uma nova estrada a trilhar, cujas nuances são desconhecidas para a maioria deles. Buscar o equilíbrio entre abraçar a oportunidade, com a devida cautela para entender não apenas o processo de abertura, mas o que acontece com a vida da empresa depois de fazer parte da lista de empresas com ações negociadas, deve ser o balizador do processos de abertura de capital.

Entre os pontos críticos para atuar nessa nova estrada, estão as estruturas e práticas da governança corporativa da empresa. Os agentes que apoiam as companhias tendem a acelerar os processos de preparação para o IPO, mirando a tal janela de investimentos, que pode se fechar por diversos fatores. Dessa forma, corre-se o risco de olhar para a instalação de organismos e sistemas de governança corporativa apenas como uma etapa formal a ser cumprida, tratando estes aspectos simplesmente com um checklist para cumprir as exigências do regulador, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Não faltam exemplos de empresas estreantes desprovidas de estrutura de governança. Especificamente no caso das startups, está claro que não se sustenta sozinha a ideia de que apresentar ao mercado de capitais um negócio arrojado basta — esse é um caminho que leva as empresas a perecer precocemente.

Concentrados na tarefa de criar produtos e serviços disruptivos, os fundadores de startups muitas vezes dedicam menos tempo às igualmente importantes tarefas de administração da empresa e de gestão da marca, da consistência da performance e dos riscos do negócio. Ocorre que a implementação de uma boa governança, exige uma “arrumação da casa”, um ambiente mais estruturado de administração, que exige um aprendizado sobre novos formatos de tomada de decisão, análise e monitoramento do desempenho da empresa. Quando se tem o objetivo de abrir o capital esta mudança naturalmente tem que ser mais profunda, pois a empresa estará se abrindo aos olhos dos investidores e analistas que, mais cedo do que se pode imaginar, avaliarão a qualidade da alta administração para entregar a promessa feita ao mercado. As empresas devem fugir do estilo “extreme makeover” de reality shows televisivos, de uma “governança” cosmética que simplesmente não resistirá à primeira crise pós-listagem.

Os perigos das ondas de IPOs já são conhecidos, como mostram as experiências do período entre 2005 e 2008 no Brasil. O setor imobiliário é um exemplo. Sustentadas pelos recursos obtidos na bolsa, muitas incorporadoras exageraram na formação de estoques de terrenos, cujo escoamento difícil em momento posterior de crise afetou bastante os negócios. No segmento de educação o problema foi a dependência excessiva do FIES (programa federal de financiamento estudantil) de empresas que captaram altas somas na bolsa. Para se ter uma ideia, o dinheiro obtido no IPO levou uma das companhias a pagar até 20 vezes o EBITDA de uma faculdade de pequeno porte somente para ter uma posição no mercado de São Paulo. Mais adiante, com escassez de crédito educativo, evasão de alunos, alta na taxa de inadimplência e queda de receita não foi mais possível ignorar o cenário difícil.

Em momentos de alta liquidez como o atual, propício para uma onda de IPOs, a pergunta-chave é: a governança é consistente ou foi desenhada apenas para a companhia cumprir o checklist e fazer parte do clube? Estruturar e reforçar os pilares da alta administração, governança e diretoria é fundamental para que as empresas entrantes tenham, independentemente do porte e setor de atuação, uma melhor chance de longevidade sustentável.

*Luiz Marcatti é presidente da MESA Corporate Governance e membro de Conselhos de Administração

Sobre a MESA

A MESA Corporate Governance trabalha a governança corporativa e familiar na dimensão humana do poder, dinheiro e afeto. A empresa é constituída por uma equipe de consultores especialistas e experientes que atendem às necessidades nos diferentes momentos de modernização de empresas de origem familiar ou multissocietárias, quer sejam de capital fechado ou com ações listadas em bolsas de valores. Também é filiada às seguintes entidades e instituições: AMCHAM Brasil, IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, ICGN – International Corporate Governance Network, FBN – Family Business Network e NACD – National Association of Corporate Directors.


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