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O Brasil e o jogo da soma zero

Em entrevista recente ao programa Roda Viva, o renomado engenheiro Ozires Silva, um dos fundadores e ex-presidente da Embraer, contou sobre um jantar, em Estocolmo, no qual estavam três membros do comitê do prêmio Nobel. Não resistindo à curiosidade, ele decidiu lhes fazer uma inusitada pergunta: “por que o Brasil não recebeu nenhum prêmio Nobel?” A resposta não veio de imediato, porque constrangedora, e foi de que o Brasil seria um “destruidor de heróis”. Ao contrário de outros países, onde quem é indicado para concorrer a tal honraria é celebrado e apoiado, aqui “jogam-se pedras” nos candidatos, que, por sua vez, não “encontram nenhum apoio da população”.

Embora devamos tomar como extrema e talvez exagerada a percepção daquele representante do comitê do Nobel, não há como ignorar que são comuns no Brasil os chamados “jogos de soma zero”. O termo, emprestado da Teoria dos Jogos, descreve circunstâncias nas quais, para que um indivíduo ganhe algo, alguém deve perder. Lógica frequentemente transposta da teoria econômica para o nosso cotidiano, fazendo de tudo uma competição entre vencedores e perdedores, como o “nós contra eles”, “empregados contra patrões”, “agricultura orgânica contra agricultura convencional”, entre muitos outros exemplos. Em tais jogos, imperam visões extremas e sectárias, argumentos pouco substanciados em números e fatos concretos, além de oportunismo e manipulação.

Vejamos um exemplo. O Brasil foi capaz de compor uma plataforma robusta de pesquisa e inovação agropecuária, na qual predominam entidades públicas — como universidades, institutos estaduais e a Embrapa —, organizações que ajudaram o país a alcançar a segurança alimentar e se projetar a uma condição de grande exportador de alimentos. Ao longo dos anos, muitas entidades estaduais de pesquisa se desestruturaram ou foram fechadas, e várias passam por grandes dificuldades, incluindo organizações tradicionais em estados importantes. Ainda assim, são raras as manifestações de lideranças e da mídia em suporte a essas instituições. Mas, estranhamente, são frequentes as manifestações e ações destrutivas de certos setores em relação a instituições públicas de pesquisa, que, a despeito de todas as limitações, fazem enorme esforço para se ajustarem e se manterem atualizadas e relevantes.

Na luta política e na busca de oportunidade de poder, no ceticismo e na apatia das forças do bem, reside o sucesso do “jogo de soma zero”, alimentado pelo ímpeto de desconstruir, na ilusão de que emergiremos das cinzas curados dos males que nos afligem. Há os que se concentram em disseminar a negatividade e quase sempre o fazem sem discernir entre o que precisa de fato ser desconstruído e o que precisa ser preservado e fortalecido. Organizações sérias são fustigadas com críticas simplistas e superficiais e até com patrocínio da transgressão a seus códigos de ética e de conduta — atitudes simploriamente caracterizadas como “liberdade de expressão” e “fogo amigo”, e frequentemente aplaudidas por claques desinformadas, raivosas e, pior, muitas vezes, mal intencionadas.

Com a severa crise que vive o Brasil, o “jogo de soma zero” encontra campo fértil na gestão pública. Francisco Gaetani, presidente da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), alertou, em recente artigo publicado pelo jornal Valor Econômico, que “o medo comanda hoje a administração pública”. Para ele, os dirigentes a serem em breve escolhidos pela população “não encontrarão na sociedade e no serviço público pessoas dispostas a assumir os riscos associados ao exercício das atividades executivas”. Argumenta ainda que o combate à corrupção eclipsou todos os demais debates, e o foco na paralisia da administração, sem observar as distorções que o excesso de controles tem gerado, tornou-se lugar-comum. De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela Enap, os gestores usam suas capacidades não para prover informações e evidências sobre a política em que trabalham, mas para responder a órgãos de controle e demandas de auditoria.

Aos infortúnios nacionais, que parecem não ter fim, somam-se prenúncios de catástrofes globais, a todo tempo antecipadas em todas as mídias: o crescimento do nacionalismo, da xenofobia e do risco de caos econômico; o acirramento dos conflitos religiosos, do terrorismo e do ódio racial; o terrorismo digital e as guerras comerciais; a mudança climática trazendo estresses intoleráveis; a erosão das conexões entre humanos e muito, muito mais. Ao ímpeto à autoflagelação, que domina o Brasil, soma-se a grita dos profetas do infortúnio, que parecem dominar todas as visões do futuro, espalhando o sentimento da insegurança e do desespero e nos afogando em um mar de cenários apocalípticos. Quem busca emergir do pessimismo, apontando os avanços alcançados em todos os campos da atividade humana, acaba ridicularizado e caracterizado como ingênuo e simplista.

O Brasil precisa se espelhar nos que estão no outro extremo da curva. De forma pragmática, muitos países preferem os "jogos de soma maior que zero", nos quais alguém ganha sem que obrigatoriamente outros devam perder. Essa modalidade de jogo funciona quando cultura e tradição movem as pessoas na direção de objetivos maiores e mais ousados, apenas alcançáveis se prevalecer a cooperação, sem impedimento à competição, desde que em alto nível. O Brasil luta para sair de uma das piores crises da sua história e precisa, desesperadamente, colocar em campo um jogo de soma maior que zero, com pessoas e instituições mobilizadas a alcançar objetivos superiores, com todos ganhando juntos.


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