Mensagem... Maior que os caminhos e os mundos

Não tem mais lar o que mora em tudo.

Não há mais dádivas

Para o que não tem mãos.

Não há mundo nem caminhos

Para o que é maior que os caminhos e os mundos.

* * *

A sensibilidade poética de Cecília Meireles nos faz enxergar um pouco além da casca, um pouco além da superfície das coisas.

Já temos plenas condições de iniciar o necessário encontro com nosso eu profundo, de perceber que somos muito mais que matéria e temos muito mais que uma vida apenas.

O encontro com o ser espiritual é a única saída para a sobrevivência, numa época de tantas incertezas na Terra.

Fala-se de mundo líquido, de amor líquido, de uma sociedade sem referências e que está à deriva.

Não precisa ser assim. Nunca ficamos sem referências. Simplesmente as deixamos de lado, crendo que haveria outras ou, ainda pior, crendo que, mesmo sendo tão imaturos, seríamos capazes de construir novos padrões.

Não há como fugir do autoencontro. Não há como seguir adiante sem nos espiritualizarmos.

Em nosso eu profundo estão todas as respostas. Ali - lembrando que esse ali não é um lugar - encontramos o abraço do pai maior e todos os tesouros que nos deixou em gérmen.

A psicologia de Jung chamou de self essa força integradora que trabalha para manter o equilíbrio entre os diversos componentes da psique.

Self é o espelho de Deus dentro de nós, a área nobre, fulcro das aspirações divinas.

Permitir o encontro com nosso self é permitir nossa libertação.

O ego - o centro de nosso consciente - está aturdido, atribulado com mil referências, defendendo-se como pode, enquanto nosso eu profundo permanece abandonado, sem receber qualquer tipo de contato.

Conhece a ti mesmo. Isso é maior que os caminhos e os mundos.

Somos seres espirituais numa jornada material.

Isso que chamamos vida é um estágio, uma parte de algo muito maior.

Existíamos antes do berço e continuaremos existindo depois.

Façamos visitas ao nosso eu profundo e percebamos que sempre tivemos essa intuição lá dentro. E que isso faz todo o sentido.

Não continuaremos a viver da mesma maneira quando passarmos a perceber as coisas dessa forma.

Não tem mais lar o que mora em tudo, como diz o poema.

Que são os bens materiais? Que é nossa casa? Uma morada passageira que fica. Nós seguimos, pois moramos em tudo.

Hoje estamos aqui, amanhã sabe-se lá onde estaremos.

Poderemos estar na dimensão espiritual ou, quem sabe, transitando em outro mundo, para além do que conhecemos.

Afinal, Jesus nos disse que há muitas moradas na Casa do Pai.

Olhemos para o alto numa bela noite estrelada.

Já paramos para pensar quantas histórias como a nossa existem por lá? Ou pensamos que era apenas um belo móbile a enfeitar nossa madrugada?

Quem sabe, entendendo-nos como um Espírito habitando um corpo passageiro, como um Espírito matriculado numa escola chamada Terra, possamos olhar para o alto, cheios de emoção, e dizer:

Não há mundo nem caminhos

Para o que é maior que os caminhos e os mundos.

Redação do Momento Espírita, com base no
cap. XIX, do livro Cânticos, de Cecília Meirelles,
ed. Global.
Em 2.6.2025