SEGS Portal Nacional

Educação

Que exemplos nós, adultos, damos para as crianças?

  • Quinta, 16 Dezembro 2021 08:23
  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Priscilla Silvestre
  • SEGS.com.br - Categoria: Educação
  • Imprimir

Muitas vezes o machismo e brincadeiras enraizadas de preconceito são consideradas normais, banalizando o que era para ser o modelo correto para os pequeninos

Por Flávia Albaine

Importante reflexão a ser feita refere-se à forma como estamos criando as nossas crianças e adolescentes no que tange aos valores humanos. Tal ponderação é fundamental para o tipo de futuro que queremos para o nosso País e para o nosso mundo.

Muitas vezes, sob a capa de um moralismo hipócrita, pais acabam por repassar valores distorcidos sobre o que vêm a ser respeito e aceitação do próximo.

Exemplifico com uma situação presenciada por mim: certa vez, em um ambiente de confraternização com alguns amigos em um bar na zona sul do Rio de Janeiro, após a entrada de um casal homoafetivo no recinto, ouvi de uma mulher que estava na mesma mesa que eu que aquilo ali (referindo-se ao casal homoafetivo) era um “mau exemplo” para o seu filho de 10 anos que estava em fase de crescimento e que poderia se confundir sobre o que é “normal” ou não.

O casal homoafetivo apenas havia entrado de mãos dadas. Nada mais. E a mulher virou-se para o filho e disse: “Essas pessoas não são normais. Jamais siga o exemplo delas. Homem tem que ficar com mulher e não com outro homem”.

E por conta de suas opções sexuais aquelas duas pessoas não poderiam ser consideradas “normais”? A conduta de uma mãe não deveria ser exatamente a de ensinar ao seu filho que no mundo há diferenças e que nós devemos respeitar a todos, independentemente de cor, sexo, religião, orientação sexual e outras características?

Não basta que a nossa Constituição Federal preveja que o Brasil tem como objetivo promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Precisamos ir além. É necessário que as pessoas entendam o verdadeiro significado das palavras “respeito” e “diversidade”, para que consigam transmitir isso aos seus filhos.

Ademais, o próprio Supremo Tribunal Federal, a partir da cláusula inclusiva do artigo 226 da Constituição Federal, instrumentalizando o fundamento da Dignidade da Pessoa Humana, já reconheceu que as uniões homoafetivas são entidades familiares, adotando entendimento contrário do que aquela mãe quis passar ao seu filho.

Os preconceitos já impregnados, você sabe lidar com eles?

Outro aspecto preocupante são os paradigmas de outrora, que hoje já perderam a sua razão de ser, e mesmo assim continuam sendo repassados para as nossas crianças.

Exemplifico, mais uma vez, com situação presenciada por mim: ao visitar uma família de amigos me deparei com a filha do casal de quase dois anos vestida com uma roupa com o seguinte dizer: “Desculpe, meninos, papai só me deixa casar depois dos 30”. A outra filha do casal de 10 anos leu a mensagem na blusa da irmã em voz alta e seus familiares riram achando a situação “fofa”.

Ora, a mensagem na roupa da criança nitidamente remontava à sociedade patriarcal discriminatória, quando o homem chefiava a família sob o pálio do pátrio poder, subjugando a esposa e as filhas mulheres. Na atualidade, o nosso Ordenamento Jurídico consagra a igualdade substancial no plano familiar, excluindo todo e qualquer tipo de discriminação decorrente do estado sexual.

Ademais, quem disse que a menina necessariamente irá desejar casar-se no futuro? E se quiser casar, quem disse que terá que ser obrigatoriamente com um homem? Ela não poderá optar por ficar sozinha ou, então, por casar-se com outra mulher?

A frase na blusa infantil ainda se baseia em estereótipos machistas e retrógrados de que toda mulher tem que casar com um homem. Felizmente, na atualidade, como consequência da luta árdua das ondas dos movimentos feministas, as mulheres podem casar com quem quiserem e se assim quiserem.

Talvez aquela família nem tivesse noção do conteúdo ultrapassado e pejorativo da mensagem na roupa daquela menininha. A intenção talvez fosse apenas fazer uma “brincadeira fofa”. E é exatamente aí que mora o perigo, pois os conceitos preconceituosos estão tão enraizados em nossa sociedade que as pessoas os consideram “normais”. Então, aquilo que era para ser objeto de combate, acaba passando despercebido.

Poderiam me indagar sob o argumento de que as pessoas têm liberdade para criarem os seus filhos com os valores que quiserem, e que, portanto, as condutas descritas acima estariam legitimadas.

Pais: não neguem a seus filhos a serem o que eles quiserem

É verdade que na atualidade prevalece a intervenção mínima do Estado nas relações familiares, com a consequente valorização da autonomia privada. Concordo, ainda, que a família é um espaço privado, não sendo possível impor condutas atentatórias à liberdade de seus membros.

Entretanto, entendo que a liberdade concedida aos pais pelo exercício do poder familiar não possa servir de instrumento para ensinar aos filhos a negarem os direitos fundamentais de terceiros e de si próprios.

Tantos outros aspectos precisam ser repensados quando se trata dos valores a serem repassados na educação de crianças e adolescentes. Poderíamos ficar aqui traçando uma infinidade de situações que merecem ser revistas para que os nosso jovens cresçam com uma mente menos preconceituosa e mais inclusiva.

Deixo, para finalizar, a reflexão para cada um de nós: que tipo de valor estou transmitindo com o meu exemplo para as crianças e os adolescentes que porventura me cercam?

Quem é Flávia Albaine?

Defensora Pública de RO. Mestra em Direitos Humanos pela Universidade Federal de RO. Professora. Fundadora e Coordenadora do Projeto Juntos pela Inclusão Social. 


Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
 

<::::::::::::::::::::>

 

 

+EDUCAÇÃO ::

Dez 19, 2025 Educação

7 critérios essenciais para escolher a escola certa…

Dez 18, 2025 Educação

Muito além das letras: alfabetização matemática é…

Dez 17, 2025 Educação

Ano letivo: confira 4 práticas pedagógicas que auxiliam…

Dez 16, 2025 Educação

Confira 5 dicas essenciais para promover uma educação…

Dez 15, 2025 Educação

Matemática: 5 dicas para estudar a matéria para…

Dez 12, 2025 Educação

Dicas para incentivar a leitura nas férias: 8 livros…

Dez 11, 2025 Educação

Planejamento escolar: como melhorar o desempenho em 2026

Dez 10, 2025 Educação

Saiba o que é preciso ser observado na escola antes de…

Dez 09, 2025 Educação

Confira 5 benefícios da gamificação para o aprendizado…

Dez 09, 2025 Educação

Intercâmbio nas férias: o que considerar antes de…

Dez 08, 2025 Educação

Vai fazer vestibular on-line? Saiba por que a qualidade…

Dez 05, 2025 Educação

Férias escolares: como equilibrar lazer, criatividade e…

Dez 04, 2025 Educação

Leitura em voz alta: especialista explica como o hábito…

Dez 03, 2025 Educação

Orientador educacional: saiba a importância deste…

Dez 02, 2025 Educação

Férias escolares viram foco de conflitos na guarda…

Dez 01, 2025 Educação

Matrícula 2026: 5 pontos que toda família deve avaliar…

Mais EDUCAÇÃO>>

Copyright ©2025 SEGS Portal Nacional de Seguros, Saúde, Info, Ti, Educação


main version