Ingerindo beleza: mercado mundial de nutricosméticos deve crescer 8% ao ano até 2030; mas eles funcionam?

Os cuidados com a saúde da pele e dos cabelos já estão bem enraizados na cultura brasileira. Cremes, protetores solares e higienizadores fazem parte da rotina de skincare, para prevenir e tratar a pele; produtos capilares são usados para tratar os fios e a queda capilar, além de afecções cutâneas. Mas agora começa a crescer também a importância dada aos nutricosméticos, suplementos orais com formulações variadas, desenvolvidos, prescritos e consumidos com propósitos estéticos. Segundo projeção da Global Market Insights, o mercado de nutricosméticos foi avaliado em US$ 6,9 bilhões em 2021 e deve apresentar um CAGR (taxa de crescimento anual composto) de 8,1% até 2030, quando atingirá um tamanho de mercado na casa de US$ 13,77 bilhões. “Os nutricosméticos são produtos relativamente recentes, resultantes de muito investimento em pesquisa e tecnologia para oferecer resultados estéticos. Desde que corretamente indicados, os nutricosméticos podem melhorar as condições de saúde da pele, prevenir doenças e alterações estéticas, melhorar o tônus cutâneo, aumentar a resistência aos danos causados pela radiação UV e ainda conferir mais saúde através de nutrientes para os anexos cutâneos”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Segundo o relatório da Global Market Insights, são quatro os principais motores desse crescimento: conscientização crescente do consumidor sobre problemas de pele e cabelo; aumento da demanda por nutricosméticos em países desenvolvidos; maior expectativa de vida; e conscientização para práticas preventivas de gestão em saúde. Segundo a dermatologista Dra. Cintia Guedes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é cada vez mais comum que o médico prescreva esses suplementos para complementar os resultados estéticos, muitas vezes oferecendo ao corpo nutrientes que atuarão como substratos para formação de colágeno. “Os nutricosméticos também podem ser prescritos para formulação em farmácias de manipulação de acordo com a necessidade de cada paciente. Há várias formas de apresentação, como gomas, pó, líquidos, comprimidos e cápsulas. Alguns ingredientes ainda podem ser introduzidos em chocolates para melhorar a adesão do paciente”, explica a dermatologista Dra. Cintia Guedes. O relatório da Global Market Insights mostra que os consumidores estão confiando cada vez mais nos comprimidos e cápsulas, devido ao seu custo-benefício e alto teor de ingredientes ativos.

A dermatologista explica que as demandas capilares também tem favorecido o crescimento do uso de nutricosméticos. “Os problemas relacionados ao cabelo são causados por diversos fatores, como poluição do ar, condições climáticas extremas, estresse, estilo de vida e dietas. Nutrientes importantes para o cabelo podem ser ingeridos por meio dos nutricosméticos, a fim de minimizar ou tratar os danos”, comenta a Dra. Cintia. “É muito importante lembrar que o nutricosmético é um suplemento alimentar como qualquer outro, portanto não substitui um hábito alimentar adequado, incluindo a hidratação suficiente para manter a pele saudável. Devem ser mais uma estratégia dentro de um estilo saudável. Temos respaldo na literatura cientifica da efetividade dos nutricosméticos para a manutenção de aporte de nutrientes específicos para a pele, das respostas imunes, tônus cutâneo, capacidade fotoprotetora oral e como complementares aos procedimentos estéticos. O que não podemos esperar dos nutricosméticos são efeitos de rejuvenescimento”, diz a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez.

Existem inúmeros ativos indicados para a pele, cabelo e unhas, como vitaminas, minerais, antioxidantes, ácidos graxos poli-insaturados, carotenoides, polifenóis, aminoácidos, peptídeos, prebióticos e probióticos. Segundo a médica nutróloga, os minerais como ferro, cobre, zinco e silício e as vitaminas C, E e B (particularmente a biotina) podem ajudar no crescimento capilar.

A farmacêutica Patrícia França, gerente científica da Biotec Dermocosméticos, enfatiza que cada vez mais pessoas estão fazendo procedimentos estéticos buscando minimizar o processo fisiológico progressivo relacionado ao envelhecimento. “Suplementos podem otimizar os resultados e ajudar a diminuir o ‘tempo de inatividade’ com injetáveis e procedimentos com laser. Ativos que melhorem a função barreira, hidratem, estimulem a síntese de colágeno, elastina, ácido hialurônico, diminuam a glicação (fenômeno relacionado ao excesso de açúcar no nosso organismo) e promovam um turn-over (renovação) da matriz extracelular ganham destaque”, argumenta a farmacêutica. “O uso de Exsynutriment, silício estabilizado em colágeno marinho, por exemplo, irá estimular a produção de colágeno, elastina e ácido hialurônico melhorando o tônus, flacidez da pele e uma organização da matriz extracelular. Por sua vez, Glycoxil, dipeptídeo biomimético da carcinina, irá diminuir a formação de radicais livres e o fenômeno da glicação, já que ambos os processos que comprometem a funcionalidade do colágeno e elastina. Para um efeito 360⁰, podemos ainda associar FC Oral, mistura de fosfolipídeos de origem marinha e lipídeos neutros extraídos das ovas de arenque, que além de diminuir o processo inflamatório, relacionado ao envelhecimento, promove a recuperação da função barreira”, explica Patrícia França.

Segundo a dermatologista Dra. Cintia Guedes, luteína e astaxantina são carotenoides com ação antioxidante e fotoprotetora que atuam diminuindo a ação deletéria da radiação UV na pele, tornando a pele menos áspera e com melhor textura. “Vitaminas do complexo B, como a B5 (ácido pantotênico) e B7 (biotina) participam do metabolismo dos nutrientes que favorecem a produção de queratina, proteína importante para a formação do cabelo, pele e unhas”, diz a médica.

Na medida em que surgem tratamentos para diminuir gordura localizada e aumentar a massa muscular, outra área correlacionada que experimenta crescimento é a de suplementos para essas ações. A farmacêutica Patrícia França destaca a ação de Slim Green Coffee, uma biomassa integral do grão do café verde, que apresenta ácido clorogênico e cafeína para atuar na queima de gordura, além de diminuir a conversão de carboidratos em gordura. “Já o Modulip, um glutrapeptídeo que tem a sua estrutura baseada no triptofano e possui uma ação na diminuição dos malefícios do cortisol nas terminações nervosas, reequilibra a via bioquímica da lipólise no organismo contribuindo para a perda de gordura”, diz Patrícia. Para atuar na construção muscular, ela indica Lipo PA, por ser um ativo padronizado em ácido fosfatídico e fosfolipídeos, o que garante sinalização metabólica relacionada ao anabolismo muscular, associado ao In Cell, ingrediente funcional preparado a partir da gema do ovo rico aminoácidos essências para promover um auxílio no anabolismo proteico muscular, já que os aminoácidos essenciais são necessários para produzir proteína muscular. “Os ativos podem ser ingeridos na forma de cápsulas, manipulados em uma farmácia de manipulação, 30 dias antes do procedimento e poderão ser mantidos pelo tempo que o médico ou profissional de saúde habilitado achar necessário para otimizar o sucesso do procedimento e a qualidade de vida do paciente”, finaliza Patrícia.

FONTES: *DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez

*DRA. CINTIA GUEDES: Dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, a médica é pós-graduada em Dermatologia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, além de ter feito especialização em Medicina Estética pelo Instituto Brasileiro de Ensino (ISBRAE). CRM 124.447/RQE 61940

*PATRÍCIA FRANÇA: Farmacêutica e gerente científica da Biotec Dermocosméticos.