Além das inúmeras questões relacionadas à saúde, a pandemia agravou uma triste realidade de nossas grandes cidades. Durante a crise sanitária, dificuldades financeiras fizeram com que a quantidade de moradores de rua crescesse no Brasil. No caso de São Paulo, um censo da população de rua encomendado pela Prefeitura revela que a quantidade de pessoas sem teto saltou 31% entre 2019 e 2021, sendo que o número de famílias enquadradas nessa situação praticamente dobrou no período.

Agora, com a aproximação do inverno, cresce também a preocupação sobre como proteger esse público das baixas temperaturas. E foi justamente essa inquietação que motivou as amigas e sócias Tânia Monezi e Márcia Soares, franqueadas da Center Panos, maior rede de artesanatos do país, a iniciar o projeto Sábado Solidário, voltado para a produção e distribuição de peças de vestuário de inverno para moradores de rua na região da Praça da Árvore, onde fica a loja administrada pela dupla.

“Estamos em um bairro de classe média alta de São Paulo, mas é assustador observar como a quantidade de pessoas vivendo nas ruas cresceu com a pandemia. Ficamos sensibilizadas ao ver tantas famílias e crianças nessa situação, e começamos a pensar no que poderíamos fazer a respeito”, revela Tânia.

Nascia, assim, o projeto Sábado Solidário, cuja primeira edição foi realizada em 26 de março. Na ocasião, a unidade de Center Panos disponibilizou uma sala para a realização de uma oficina de tricô e crochê, ministrada de forma gratuita pela professora. Os participantes puderam adquirir os materiais na própria loja ou levá-los de casa, e a aula teve como foco a produção de cachecóis, meias e gorros.

“Muitas vezes, o morador de rua é retirado às pressas do lugar onde está e deixa suas coisas para trás. Mas essas são peças que eles sempre carregam no corpo, especialmente em época de frio. Além disso, a professora focou em pontos básicos e que não exigiam grande conhecimento técnico, para que todos pudessem participar. Foi um sucesso. Gerou uma mobilização que a gente não esperava”, revela a empresária.

Segundo ela, a escolha da data foi justamente para reunir um grande volume de doações antes da chegada do inverno. As peças serão distribuídas através da paróquia da região, que apoia a iniciativa. “Depois que a frente fria chega, não adianta correr para produzir. É algo que precisa ser planejado com antecedência. Quem participou da oficina de março e aprendeu como fazer, continua criando as peças em sua casa e nos entrega quando passa pela loja”, afirma.

Com o sucesso da iniciativa, a dupla revela a intenção de realizar um novo Sábado Solidário em junho. Além disso, desde o ano passado a loja comercializa cobertores do bem a preços populares, facilitando a aquisição por ONGs e pessoas físicas que tenham a finalidade de doar.

“Essa questão da empatia é muito intrínseca para nós. Sabemos que não vamos transformar o mundo, mas se mudarmos a realidade de uma pessoa já vamos dormir mais tranquilas. E quando iniciamos uma ação como essa, pessoas com a mesma sensibilidade são atraídas, unimos forças e vemos que não estamos sozinhas”, completa Tânia.