Um grande barco de espinhel que trabalhava com a pesca de atum desembarcou no Porto de Santos (SP), em 1990, trazendo a bordo um pesquisador com albatrozes e petréis mortos durante a interação com os anzóis pesqueiros. Ao desembarcar, levou-os ao laboratório do Museu de Pesca da cidade, onde uma jovem bióloga apaixonada por aves recebeu as amostras. Este encontro mudou para sempre a trajetória de conservação das aves marinhas no Brasil.

Esta poderia ser a sinopse de um filme de Hollywood, mas é o início da história do Projeto Albatroz. E a jovem bióloga é Tatiana Neves, fundadora e diretora geral da instituição nos últimos 30 anos. Desde então, o Projeto Albatroz se pauta pela conservação da biodiversidade marinha e a sensibilização de pescadores - seus principais parceiros -, estudantes e professores sobre a importância dos albatrozes e petréis. Para coroar este trabalho tão importante, a instituição recebeu seu primeiro prêmio de relevância nacional para a conservação. O XI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade e Amor à Natureza foi entregue em janeiro pela Revista Ecológico, e é considerado uma das maiores premiações em homenagem ao meio ambiente no país.

A premiação busca reconhecer, divulgar e premiar os melhores exemplos de gestão, revitalização e preservação ambiental, bem como indicações de pessoas e instituições dedicadas à causa da sustentabilidade em todo o país. Inscrito em duas categorias, Melhor Exemplo em Biodiversidade (Água, Ar, Flora e Fauna) e Melhor Exemplo em Educação Ambiental, a dimensão do trabalho do Projeto Albatroz em outras áreas fez com que fosse promovido pela comissão julgadora à nova categoria, Destaque Nacional.

Para Tatiana Neves, o prêmio é um grande marco na trajetória da instituição. “Para nós foi uma grande honra receber este prêmio como Destaque Nacional em um país como o nosso, recheado de organizações e iniciativas incríveis em prol ao meio ambiente. Além disso, ganhar o Prêmio Hugo Werneck fortalece nosso reconhecimento junto à sociedade, patrocinadores e parceiros trazendo ainda mais força para nossas ações”.

Gerente de educação ambiental da instituição, Cynthia Ranieri comenta que o prêmio vai ajudar a dar mais visibilidade ao trabalho desenvolvido pelo Programa de Educação Ambiental Marinha ‘Albatroz na Escola’ e também ao Coletivo Jovem Albatroz que, juntos, sensibilizam mais de mil pessoas anualmente. “Ele nos dá ainda mais energia para seguir adiante com este importante trabalho, tão desafiador neste período de pandemia em que foi preciso nos reinventar”.

Desde 2006, o Projeto Albatroz é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e, desde 2012, integra a Rede Biomar, junto com os projetos Baleia Jubarte, Coral Vivo, Golfinho Rotador, Meros do Brasil e Tamar. Acompanhe-os nas redes sociais para conhecer mais sobre suas ações de preservação de espécies marinhas

Planos para o futuro

A notícia da premiação, de acordo com Tatiana Neves, deu uma dose extra de energia para colocar em prática os planos futuros da instituição, que incluem a construção do Centro de Visitação Pública e Educação Ambiental Marinha do Projeto Albatroz, ou Centro Albatroz, em Cabo Frio (RJ) - próximo da área de abrangência da Bacia de Campos. O Centro terá como objetivo principal disseminar a educação ambiental marinha para crianças, jovens, pescadores e turistas de toda a Região dos Lagos. Nele, os visitantes poderão conhecer a biologia e as características dos albatrozes e petréis, grupo de aves mais ameaçadas do planeta. No espaço, também serão realizadas exposições tecnológicas e artísticas, oficinas e atividades socioambientais e culturais para o público.

Outro plano é ampliar o monitoramento de pesca que já é realizado nas regiões Sul e Sudeste para atuar junto às empresas atuneiras no Nordeste, com o estabelecimento de uma base na cidade de Natal (RN). A ideia é desenvolver pesquisas de ponta, com novas tecnologias voltadas ao monitoramento da pesca em alto-mar em parceria com a indústria pesqueira para a verificação do uso correto das medidas de mitigação que visam a redução da captura incidental de aves marinhas. Tais medidas já são previstas em lei através da Instrução Normativa Interministerial (INI) nº 07/2014, dos Ministérios da Aquicultura e Pesca e do Meio Ambiente.

Sobre o XI Prêmio Hugo Werneck

O Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza foi criado em 2010 em homenagem ao ambientalista mineiro Hugo Werneck (1919-2008). Um dos precursores da consciência ecológica na América Latina – ele foi o fundador do Centro para a Conservação da Natureza e defensor da criação de importantes áreas verdes de Minas Gerais, como os parques Nacional da Serra do Cipó e Estadual do Rio Doce. Hugo Werneck acreditava que só o amor, a informação e a educação ambiental podem mudar a atitude do ser humano em relação ao meio ambiente e à natureza que nos resta.

Idealizado pela Revista Ecológico e o Sindiextra/Ibram, o prêmio tem como principal correalizador, pelo segundo ano consecutivo, o Sistema Fiemg. Conta com a participação do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e seus órgãos colegiados – IGAM, IEF e FEAM. E, a nível regional e nacional, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A supervisão técnica da Fundação Dom Cabral. A parceria da Rede Globo Minas. A legitimação do Centro Hugo Werneck de Proteção à Natureza. O apoio da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e o engajamento da Fundação SOS Mata Atlântica.

Projeto Albatroz

Reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis é a principal missão do Projeto Albatroz, que tem o patrocínio da Petrobras. O Projeto é coordenado pelo Instituto Albatroz - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores.

A principal linha de ação do Projeto, nascido no ano de 1990, em Santos (SP), é o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar Políticas Públicas e a promoção de ações de Educação Ambiental junto aos pescadores, jovens e às escolas. O resultado deste esforço tem se traduzido na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil.

Atualmente, o Projeto mantém bases nas cidades de Santos (SP), Itajaí e Florianópolis (SC), Itaipava (ES), Rio Grande (RS) e Cabo Frio (RJ).