A divulgação da carta aberta de fundos globais que administram US$ 4,1 tri em ativos para as principais embaixadas brasileiras, no final de junho, no intuito de discutir a gestão ambiental no Brasil acendeu um alerta a respeito do novo rumo que as empresas têm tomado em relação às boas práticas ambientais.

No documento entregue a sete embaixadas brasileiras na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, importantes companhias, como Storebrand, AP7, KLP, DNB Asset Management, Robeco, Nordea Asset Management e LGIM afirmam que as condições de incertezas provocadas pela escalada do desmatamento nos últimos anos tende a afetar, principalmente, produtores de carne, operadoras de grãos e até títulos do governo brasileiro.

Para Mariangelica Almeida, advogada ambiental do escritório Bastos Freire Advogados e procuradora do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), a maior razão desses fundos de investimentos lançarem esse alerta de desinvestimento no Brasil está diretamente relacionada ao perfil dos seus clientes. Ela explica que as pessoas que fazem parte da Geração X (entre 40 e 54 anos) e os Millennials (entre 25 e 39 anos) são os maiores investidores desses fundos e os mais preocupados com práticas sustentáveis.

"São esses investidores [das gerações X e Millennials] que têm admitido perder um pouco de seus retornos em investimentos, desde que as empresas que recebem seus aportes sejam compromissadas com boas práticas sociais e ambientais", afirma.

A advogada ainda destaca que há algum tempo esses investidores exigem a apresentação de relatórios pormenorizados das empresas que recebem seus investimentos com a finalidade de comprovar que suas gestões estão firmemente comprometidas em diminuir os impactos que resultam em eventos relacionados com as alterações climáticas, além de adotarem amplamente políticas inclusivas e de impacto social positivo.

"Assim, o que há de fato é um novo investidor que exige das empresas que receberão seus aportes, o efetivo compromisso com as pautas sociais e ambientais, pois compreendem que, com a elevação das temperaturas médias anuais, haverá perdas em áreas produtivas, redução da área de floresta, diminuição de chuvas em algumas regiões e chuvas torrenciais em outras, além de temperaturas muito elevadas ou muito baixas, o que impacta diretamente na economia", pontua.

Mariangelica acrescenta também que as práticas sociais ilegais podem levar a um excesso de judicialização trabalhista, multas e problemas de imagem, além de intensificar as desigualdades regionais e levar empresas ao colapso.

Para ela, as agendas governamentais federais e estaduais precisam ser transparentes e permitir, não só às empresas brasileiras como também aos investidores estrangeiros, acesso ao máximo de informações confiáveis.

"Essas medidas devem ser implementadas pelo governo federal, que recebe investimentos em títulos do tesouro, pelos governos estaduais, que exercem a efetiva fiscalização local dos empreendimentos que impactam o meio ambiente, e pelas próprias empresas interessadas em receber esses investimentos. Não se trata somente de políticas e ações de combate ao desmatamento na Amazônia, e sim de garantir um melhor ambiente de negócios", conclui Mariangelica Almeida.