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Superando obstáculos na difusão de Soft Skills

Superando obstáculos na difusão de Soft Skills

No percurso da transformação digital que assumiu o centro das preocupações da grande maioria das empresas no decorrer dos últimos anos, a própria natureza do trabalho e da formação de equipes no ambiente corporativo se viu diante de novas prioridades. Uma vez que a inovação já é capaz de automatizar, com alto grau de eficiência, uma série de atividades operacionais, qual o papel do talento e da colaboração humana na nova dinâmica do mercado?

A partir deste questionamento, vimos o crescimento do debate e da valorização das soft skills nas organizações, que, em linhas gerais, dizem respeito ao conjunto de habilidades comportamentais, pessoais e interpessoais que todos nós desenvolvemos, em maior ou menor grau, tanto em nossas trajetórias profissionais, quanto a partir da convivência com outros cidadãos, da resolução de problemas do dia a dia e da bagagem cultural e emocional que cultivamos ao longo de nossas vidas.

Mais do que um simples complemento as habilidades técnicas (hard skills), as soft skills são fatores determinantes para o sucesso em um ambiente de transformação e diversidade cultural, no qual temos de aprimorar nossas capacidades de comunicação, criatividade, inteligência emocional, flexibilidade para lidar com diferentes cenários; tudo isso com proatividade e, ao mesmo tempo, empatia para a compreensão do outro.

Dito isso, ainda que já reconhecida a importância, a difusão de soft skills nas empresas trata-se de um desafio complexo, afinal de contas, estamos diante de competências subjetivas e não facilmente quantificáveis, as quais, consequentemente, exigem outras métricas e perspectivas dentro do quadro de gestão de uma equipe.

Desafio complexo, sem dúvidas, mas não intransponível.

Porque os soft skills são determinantes no ambiente de mercado contemporâneo?

Do ponto de vista teórico, as soft skills se relacionam, diretamente, com discussões amplas sobre os próprios processos de aprendizagem e absorção de novos conhecimentos.

Já em 2012, uma pesquisa do órgão americano National Research Council, por exemplo, abordou as habilidades de cognição (análise, aprendizado adaptativo, capacidade de resolver problemas), interpessoais (responsabilidade, trabalho em equipe, negociação e liderança) e intrapessoais (iniciativa, flexibilidade, aprendizado contínuo) como as habilidades determinantes para o Século XXI.

A Unesco, por conseguinte, aponta as perspectivas do aprender a conhecer (compreensão, comunicação, sentido crítico); aprender a fazer; aprender a viver com os outros e aprender a ser (responsabilidade, responsabilidade social, inteligência e sensibilidade) como cruciais para a educação de nossos tempos.

Toda esta gama de habilidades, hoje, se enquadra dentro do terreno das soft skills e, segundo análise de 2019 da McKinsey, elas se tornam ainda mais importantes dentro do contexto ágil de transformação digital do mercado, uma vez que estamos falando das competências que são o trunfo da humanidade em um futuro no qual, nosso poder de tomada de decisões, de interpretação de dados e de liderança das transformações do mercado será testado e valorizado dentro das novas relações que se constroem nas empresas.

O desafio da difusão de soft skills

Mas estes conhecimentos que, na visão da Harvard Business Review, não entram no radar atual da digitalização e, de fato, formam um elo poderoso de criatividade humana e tecnologia, como observei no início, não são simples de serem difundidos.

Uma pesquisa global da Manpower Group apontou, por exemplo, que para 64% das empresas brasileiras, a difusão de soft skills é ainda mais difícil do que treinar equipes sobre conhecimentos técnicos.

Vencendo barreiras

A partir da leitura de artigos especializados nas novas dinâmicas dos ambientes de trabalho, separei 3 pontos que considero fundamentais para superarmos o desafio do fortalecimento de soft skills nas empresas:

A análise cultural

O primeiro passo consiste na leitura de nosso ambiente interno e da realidade de nossas equipes. Quais são nossas dores enquanto empresas? Quais são os focos de resistência a mudança? Que soft skills precisam ser trabalhados com mais ênfase? A partir desta leitura interna, poderemos desenvolver treinamentos que, de fato, façam sentido para os nossos colaboradores e objetivos organizacionais.

O diálogo e a capacidade de observação

Para tanto, uma vez que estamos falando de habilidades de cunho mais subjetivo, precisaremos desenvolver nossa própria capacidade analítica e de observação enquanto gestores. Um bom exercício é estimular o diálogo aberto e colher insights a partir de dinâmicas informais, que reforcem as capacidades de interação interpessoais e o senso colaborativo – os quais, por si só, são soft skills importantes e que podem contribuir, inclusive, para identificarmos e formarmos novas lideranças nas empresas.

O autodesenvolvimento e os desafios como fontes de aprendizado

Finalmente, além dos treinamentos internos, a partir do mapeamento das aspirações de nossos colaboradores e do alinhamento destas aspirações com os objetivos da empresa, é fundamental que, enquanto lideranças, estimulemos o autodesenvolvimento, a busca por novos conhecimentos (aprender a conhecer), criando, por exemplo, cenários em que nossos times terão de solucionar desafios a partir dos novos conhecimentos aprendidos.

A partir desta trilha de entendimento de nosso contexto, trocas com nossas equipes e estímulo ao autodesenvolvimento (e a autogestão), fortaleceremos, naturalmente, o mapeamento dos soft skills fundamentais para o sucesso de nossas empresas e o próprio desenvolvimento dessas habilidades.

Sim, muito mais do que etapas simples, trata-se de uma jornada que deve ser alimentada continuamente para que possamos colher os frutos de um ambiente de trabalho preocupado em desenvolver pessoas prontas para os desafios do futuro e do presente.

*Janine Motta é Comunicóloga, Jornalista e Profissional do Marketing, Mestra em Web Analytics e pós-graduanda em Marketing pela USP. Atualmente é Gerente de Marketing da Docket, uma legaltech que fornece ao mercado toda a infraestrutura para processos que dependem de documentação, de ponta a ponta, por meio da tecnologia.


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