Home Office Exige Mudança de Cultura Organizacional, Afirma Especialista

As mudanças abruptas causadas pela pandemia de covid-19 no mercado de trabalho tornaram a flexibilidade um elemento fundamental na gestão das empresas. E isso tem impacto profundo na sedimentação das culturas corporativas. Para Mariana Malvezzi, psicóloga e professora de Gestão de Pessoas e Cultura Organizacional na ESPM São Paulo, nem todas as organizações estão preparadas para a flexibilização exigida pelo novo cenário. Ela afirma ainda que as características pessoais dos funcionários também têm peso na produtividade em home office. Confira a entrevista de Mariana Malvezzi sobre home office e cultura organizacional:

Com a pandemia, muitas empresas sem experiência prévia de home office se viram forçadas a adotar o modelo. Quais são as principais dificuldades de organizações novatas na prática do home office?

As dificuldades das novatas no home office são numerosas, já que toda a estrutura de organização do trabalho se vê forçada a se adaptar a uma nova contingência. Essas dificuldades atingem tanto processos rotineiros -- reuniões e relatórios de atividades, por exemplo -- como as questões estratégicas, como investimento em novos projetos e tecnologias. Isso torna necessária a construção um novo de modelo para os próximos anos, que inclua novas rotinas de operacionalização do trabalho e de tomada de decisões estratégicas.

Os departamentos de recursos humanos também têm desafios particulares nesse contexto, sobretudo com os recém-chegados. Como é possível envolver os novos funcionários em uma cultura organizacional sem a presença física deles nas empresas?

A mudança para o home office chegou de forma abrupta, e exigiu de todas as empresas uma adaptação. Por questões culturais, os valores e crenças das organizações podem facilitar ou dificultar essa adaptação. Nesse sentido, a capacidade de absorção e aculturamento dos novos funcionários varia de acordo com as características pessoais e com a força da cultura organizacional. Quando a cultura já está alinhada às novas contingências causadas pela pandemia, é mais fácil o ajuste dos funcionários. É importante ressaltar também que o home office, como qualquer outra atividade de trabalho, depende de características pessoais. Ou seja, a cultura organizacional pode favorecer a mudança, mas os próprios funcionários podem apresentar dificuldades nesta adaptação em virtude de suas características pessoais.

Quais medidas práticas podem ser tomadas pelas empresas?

Em primeiro lugar, um treinamento de integração, ou ações de efeito similar, que transmitam os valores, crenças e o jeito de ser da empresa. Essas ações devem resumir os aspectos formais da cultura, presentes nos estatutos e na organização do trabalho. Porém, a cultura é também composta de elementos não formais, ou seja, vivenciados no dia-a-dia e que não constam nos manuais e registros oficiais. Por exemplo: normas não explícitas de vestimenta e conduta. Nesses casos, o novo funcionário irá se aculturar com o tempo, ganhando familiaridade com esse outro lado da cultura que igualmente afeta seu trabalho e sua produtividade.

Como esse cenário particular pode afetar a produtividade dos funcionários?

A produtividade é impactada e elementos da cultura organizacional podem ser negativos nesse cenário, caso não tenha sido feita uma adaptação prévia. Isso se revela, por exemplo, na manutenção de cobranças por produtividade e simultâneos controles estritos sobre o comportamento, como quantidade de horas online. Por outro lado, a produtividade pode aumentar se os elementos da cultura favorecerem o trabalho remoto. Alguns desses elementos são a organização, a transparência e, acima de tudo, a flexibilidade.

Quais ingredientes não podem faltar em um home office eficaz, em especial com relação a cultura organizacional?

São vários, mas a flexibilidade é o mais importante, está em todos os processos eficazes atualmente. No futuro, creio que a Inteligência Artificial aprofundará essas mudanças em relação a flexibilidade. Dessa forma, aprender a ser flexível passou a ser uma questão de sobrevivência tanto para organizações quanto para os trabalhadores. O home office foi uma obrigação para a flexibilização do local de trabalho com o novo cenário da pandemia. Cabe também nos questionarmos o quanto outros processos internos podem ser revistos, sobretudo os que não se justificam diante do novo cenário.

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