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Ensino híbrido: como o legado de Pestalozzi, Froebel, Montessori e Paulo Freire influenciam os educadores hoje e pós-pandemia?

*Por Marcelo de Cristo

O retorno às aulas presenciais está acontecendo gradativamente em todo o país. Analisando a jornada dos educadores do ensino básico atuando remotamente, é importante considerarmos cada desafio enfrentado até o momento como estágio de desenvolvimento em que todos foram adquirindo, no e pelo trabalho, um conjunto de conhecimentos necessários para a transformação da educação escolar no Brasil. Considerando este momento inédito de nosso sistema educacional - compreendido entre o fechamento das escolas em março deste ano e o seu gradual retorno às atividades presenciais -, é justo reconhecer-lhe o “caráter excepcional”, sem embargo de admitirmos que muitos foram os avanços e, ainda maiores, os aprendizados que necessitam ser incorporados por professores, instituições escolares e sistemas de ensino de forma perene.

É preciso, dessa forma, refletirmos sobre a necessidade de olhar para todo esse conjunto de mudanças e inovações em face das inúmeras adversidades, ou seja, as novas práticas implementadas, os novos recursos experimentados, as diferentes formas de convívio vivenciadas, e o seu aproveitamento para a educação do futuro, tal qual fizeram muitos dos que nos precederam e que deixaram marcas indeléveis na educação do presente.

Johann Heinrich Pestalozzi, pedagogista e educador pioneiro da reforma educacional, chegou a ser tão pobre quanto as crianças órfãs que se propôs a educar em meio à guerra franco-suíça. E, não dispondo de grandes recursos, desenvolveu um “método intuitivo”, que levava crianças de diversas idades a observarem, juntas, a própria natureza e o ambiente em que viviam, comparando e deduzindo por elas mesmas ou com o auxílio do professor. Apesar das inúmeras dificuldades, modificou profundamente a educação do seu tempo ao aliar conhecimento e sentimento, tornando-se o grande precursor das pedagogias ativas e da educação socioafetiva.

Já o pedagogo alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel, igualmente levado pelas tribulações de sua época, abandonou a sua função na Universidade de Berlin para dedicar-se à criação dos três filhos de seu irmão morto por cólera. E, influenciado pelas ideias de Pestalozzi, elaborou uma nova concepção de educação para as crianças menores de 8 anos, fundando o seu Kindergarten ou “jardim da infância”.

Suas ideias, muitas das quais oriundas de experimentações pioneiras com brinquedos e com um ambiente familiar e acolhedor, lançaram as bases para o surgimento da educação infantil tal como a conhecemos hoje.

Maria Montessori, pedagoga italiana, impedida de exercer a medicina por conta dos preconceitos do seu tempo, dedicou-se à educação de crianças com necessidades especiais em situação de isolamento social em hospícios e reformatórios. E, aliando conhecimento, criatividade e resiliência, criou um revolucionário método de ensino que respeita a individualidade das crianças e desenvolve a sua autonomia, sendo posteriormente adotado no ensino regular. Introduziu uma grande quantidade de inovações e recursos pedagógicos que hoje são tão naturais que não nos damos conta de sua origem, como a criação de mobiliários e objetos sob medida para a educação infantil.

O conhecido educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, tendo sofrido na pele as consequências da crise mundial de 1929, testemunhou o êxodo de miseráveis iletrados provenientes do campo e a proliferação de mocambos no Recife. E, não se acomodando diante dos graves desafios do período, desenvolveu e implementou um método revolucionário de alfabetização de adultos em tempo recorde, que culminou na elaboração de uma filosofia da educação radicada na consciência da realidade, nos saberes populares e na transformação social. Suas práticas educacionais e reflexões sobre as mesmas repercutem ainda hoje em todo o mundo, influenciando educadores e políticas educacionais de diversos países.

A pandemia do coronavírus, a seu turno, apresentou aos educadores da atualidade o problema do ensino remoto emergencial no ensino básico, e deixará como legado a oferta do ensino híbrido como necessidade educacional em todas as redes de ensino, especialmente diante da resolução do CNE – Conselho Nacional de Educação, que autoriza a modalidade até o final de 2021. Na medida em que vislumbramos as possibilidades de retorno às aulas presenciais, a desigualdade social que caracteriza o sistema educacional brasileiro suscita importantes questionamentos sobre a qualidade, necessidade de investimentos, bem como formação para esse tipo de oferta, especialmente no âmbito da educação pública.

Mas, no campo do trabalho e dos desafios, a consciência dos educadores é sempre a mesma, com o imperativo da mobilização de saberes para transformá-los pelo e para o trabalho com vistas à oferta de uma educação verdadeiramente transformadora, de qualidade e em segurança para todos. O momento atual nos convida, assim como no passado, a uma reflexividade, retirando dos acontecimentos do presente as lições necessárias para a melhoria dos processos educativos no futuro.

*Por Marcelo de Cristo é pesquisador, professor, escritor e especialista educacional da International School – programa de educação bilíngue para escolas de ensino regular, e tutor de cursos de certificação de professores (CELTA) pela Universidade de Cambridge, tendo atuado na formação e desenvolvimento de professores no Brasil, América Latina e Reino Unido.


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