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O fetiche do cinema e o autismo

O autismo infantil é um assunto que tem dominado a agenda dessa semana. A campanha da sessão de cinema gratuita é que o revisitou. Vamos celebrar. Todas as iniciativas de ajudar e contribuir para a causa do autismo infantil são válidas. Maravilha. Faço uma curva para fazer aqui uma reflexão.

Apesar de não existirem dados oficiais precisos, estima-se que há dois milhões de autistas no Brasil. Para apurar o número de brasileiros com Transtorno de Espectro Autista (TEA), o censo indaga por deficiência, excluindo, portanto, a categoria “autista”. Porém, com a sanção da Lei 13.861/2019, em agosto de 2019, questões sobre “especificidades inerentes ao transtorno do espectro autista” como pessoa deficiente deverão ser incluídas na pesquisa, o que propiciará uma evolução desses dados e melhor retorno.

Falta substrato anatômico para o autismo. Quando a criança não revela evidências por si mesma, por ser totalmente igual ao outro, precisamos de lentes. Ir ao cinema é uma bela iniciativa, mas precisamos verdadeiramente de uma fotografia que capture a realidade.

Os esforços feitos pelas políticas públicas brasileiras, para conferir visibilidade ao autismo, são parcos. A lei Rommel com certeza é um grande avanço e impulsionou a onda da reflexão. Os esforços feitos pelas políticas públicas brasileiras, para conferir visibilidade ao autismo, são parcos. A lei com certeza é um grande avanço e impulsionou a onda da reflexão. Mas é necessário avançar, pois se para alguns a síndrome pode ser invisível, para outros há sinais externos. A significância desses sinais, é que faz a linha do distinguível e, após a distinção, vem o preconceito.

O problema do autismo, vai muito além do cinema. O artista precisa de um olhar que fomente a neutralidade ou que esconda o preconceito. Isso só se faz pela inclusão. A inclusão cujo impacto extrapola a medicina e invada diversos campos da cultura e óbvio da sala de aula. Uma emergência de leis que garantam escola e educação para o autista.

Mas há uma falta de convergência entre o sistema legal e a verdade. O cinema com certeza, é uma indicação, da falta de evidências convergentes e de um cuidado maior com os dilemas complexos enfrentados pelos autistas e suas famílias. Não existe cinema para autista nos bolsões do Brasil. Se para alguns, o ativismo clichê e superficial de assistir um filminho da Disney ou uma comédia, é um alento, para outros só podem ser vistos como neuroimageamento.

Não dá para aderir, a não ser criticamente o cineminha. Cair na falácia do filme é como negar a verdade. Autismo merece todo cuidado e proteção, não um mero fetiche. Cinema é no caso uma tatuagem, um piercing. Alguém que precisa verdadeiramente, de um cuidado muito maior e um foco de atenção do Estado. É preciso acabar com essa gincana ideológica que o Brasil tende a acolher, ela só serve para aumentar a desigualdade. As crianças são estigmatizadas.

Quem não possui sequer escola, está à deriva. Na vivência do estigma e por desconfiança dos educadores e pares. Que bom ser autista na capital, pelo menos ele pode ir ao cinema.

Para mim, a paralisia psicológica de quem contribui para alimentar esse sistema, e tapou com o cinema, o sofrimento existencial do autista me faz sentir desafiada a reescrever o sofrimento daqueles que lidam com autismo infantil, forjando meios para torná-lo mais real. Por um Brasil com mais psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, psiquiatras, fisioterapeutas e advogados. Claro, com escolas aptas a receber a criança autista. Quem quiser que vá ao cinema. Eu, não.

Maria Inês Vasconcelos – Advogada, pesquisadora, professora universitária e escritora.


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