Como fica a função de porteiro com a expansão das portarias remotas?

A discussão sobre a substituição do homem por máquinas e tecnologias é antiga e acontece desde a Primeira Revolução Industrial. A evolução é gradual e constante na forma de trabalhar e nos equipamentos usados — podemos citar alguns exemplos, como a carruagem, que foi substituída pelos automóveis; a máquina de datilografar, pelo computador; a internet, que substituiu as locadoras de vídeo, entre tantas outras inovações. Mesmo com todo esse desenvolvimento, o mercado de trabalho nunca parou, pois surgiram outras profissões.

Na área de condomínios, o avanço das portarias remotas tem sido um motivo de preocupação para os profissionais de portaria. A pergunta é: essa função será progressivamente substituída pela tecnologia?

Segundo Walter Uvo — especialista em tecnologia da MinhaPortaria.com —, a troca do porteiro por um sistema de portaria remota é uma realidade de inúmeros condomínios, que estão investindo na tecnologia em busca de mais segurança, respaldo e equilíbrio do orçamento: "Com o novo sistema, o porteiro físico, que fica dentro da guarita do condomínio, é substituído pelo monitor de portaria alocado em um ambiente seguro e protegido, na Central de Monitoramento, eliminando a possibilidade de rendição ou coação do profissional. Desta forma, o controle da entrada e saída dos moradores e funcionários é feito pelo sistema de controle de acesso, sem intervenção humana, reduzindo os erros e garantindo que quem entra nas dependências do condomínio foi verificado".

Porém ele salienta que o sistema não elimina a necessidade de um ou mais funcionários durante o horário comercial para o recebimento de mercadorias que necessitem de recibo de entrega ou para acompanhar um prestador de serviço. "Há condomínios que não querem abrir mão da portaria convencional e preferem misturar a tradicional com a remota, ficando a critério deles decidir como os dois sistemas serão utilizados", completa Amilton Saraiva, da GS Terceirização.

Para Saraiva, ainda há muito mercado para os profissionais de portaria, pois o processo de automação e substituição de portarias convencionais por remotas é grande, mas ainda não atinge os inúmeros dos condomínios existentes em São Paulo e em todo o Brasil. "Além disso, alguns condomínios ainda resistirão a essa evolução, preferindo o calor humano ao atendimento remoto. Depois, a nova tecnologia não se enquadra em alguns tipos de condomínios, e em outros, o ideal mesmo é a ação paralela da tecnologia com a presença do porteiro físico."

Para ele, o processo de mudança existe e é inevitável, mas é tolice resistir às inovações. Aquele porteiro caricato — muito mostrado em novelas —, simplório, desajeitado e com dificuldades de interatividade com a internet, só deve existir na ficção, pois a realidade no mercado de trabalho é bem diferente. "Ao invés disso, esses profissionais devem se perguntar: o que estou fazendo para evoluir e me adequar ao novo formato de seguranças condominiais que se configuram? Quais novas competências devo desenvolver? Como aliar estas tendências ao que faço? Questões essas necessárias a todo profissional — independentemente da área — em qualquer época, pois estagnação não deve ser confundida com estabilidade."

Saraiva explica que com o avanço da tecnologia, esses profissionais precisam buscar cada vez mais cursos de aperfeiçoamento para se adequarem e continuarem ativos no mercado de trabalho: "Hoje, os condomínios preferem contratar um profissional de portaria que seja de uma empresa terceirizada justamente por passarem por treinamentos e cursos, que os capacita tanto a ter atitudes preventivas de segurança como adquirir facilidade em lidar com as novas tecnologias".

Além disso, segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese), 34,5% das empresas que atuam com portaria remota já realizam a requalificação dos porteiros para trabalharem como atendentes, assistentes de manutenção, operadores remotos, seguranças, ou até mesmo para compor portarias híbridas — que operam com o profissional local junto ao sistema remoto.