Alerta para alta de risco de recall de produto
Maior rigor regulatório, cadeias de suprimento complexas e até as redes sociais estão aumentando a intensidade e a severidade do risco de recall de produtos em todo o mundo, alertou a seguradora Allianz.
Relatório publicado pela AGCS, braço de seguros para empresas da seguradora alemã, afirma que o custo médio de um episódio de recall de produtos chega a US$ 1,65 milhão (R$ 5,4 milhões).
Mas o valor pode ser muito superior a isso nos casos mais extremos. Por exemplo, estima-se que o escândalo dos equipamentos de airbag defeituosos da japonesa Takata, que resultou no recall de entre 60 milhões e 70 milhões de veículos ao redor do mundo, tenha custado US$ 25 bilhões. A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial como consequência do mega recall.
A AGCS nota, em 2016, 53,2 milhões de automóveis novos foram objeto de recall apenas nos Estados Unidos. O número foi mais de três vezes superior ao de 2012, e representou o terceiro ano consecutivo em que se estabeleceu um novo recorde no mercado americano.
Na Europa, o volume de automóveis que tiveram de ser devolvidos às montadoras no passado foi 76% maior que em 2015.
A Allianz não trata especificamente do Brasil no relatório, mas dados do Ministério da Justiça mostram que o país não está isolado das tendências internacionais.
Segundo o ministério, em 2016 foi promovido o recall de 9,6 milhões de produtos no país, o maior número desde que o fenômeno começou a ser rastreado, em 2003.
Setores
As indústrias que mais estão expostas ao recall de produtos são a automobilística e de alimentação, de acordo com a AGCS.
A seguradora analisou 367 apólices dedicadas ao recall de produtos que sofreram sinistros em 28 países, englobando 12 setores da economia, e 42% delas envolveram empresas do setor automobilístico.
Em segundo lugar vieram as de alimentação, com 18%, e as de eletrodomésticos, com 10%.
Em termos dos valores dos sinistros, o setor automobilístico representa 71% do total, e o de alimentação, 16%.
O valor médio de um sinistro no setor de automóveis, incluindo autopeças, chegou a € 2,12 milhões. Na alimentação, foi de € 1,31 milhão, e nos equipamentos eletrônicos e de informática, € 1,1 milhão.
Alguns casos, como o da Takata, saltam aos olhos pelo potencial de danos causados às empresas que enfrentam o recall de um de seus produtos.
No ano passado, por exemplo, houve o dos telefones celulares Galaxy Note 7, da Samsung, cujas baterias apresentavam risco de explosão e que teve um custo estimado em US$ 5 bilhões para a multinacional coreana.
No setor de saúde, a DePuy Orthopaedics, do grupo Johnson & Johnson, teve que fazer em 2010 o recall de produtos utilizados em cirurgias de substituição de quadril, com um custo estimado em US$ 3 bilhões.
E em 2008, um caso de suspeita de salmonela nos amendoins fornecidos pela Peanut Corporation of America levou ao recall de mais de 4.000 produtos de 200 empresas diferentes, a um custo de US$ 1 bilhão. A produtora de amendoim foi à falência.
Causas
A maior exposição ao risco de recall se deve a uma conjunção de fatores que vão desde a complexidade das cadeias de suprimento, que são cada vez mais difíceis de monitorar, e o crescente ativismo dos consumidores através das redes sociais.
Além disso, os governos estão mostrando um apetite cada vez maior em apertar a regulamentação de defesa dos consumidores.
No Reino Unido, por exemplo, o número de casos de recall de alimentos e bebidas aumentou em 60% em 2016 depois que entraram em vigor novas regras da União Europeia que obrigam as empresas a deixar mais claro, nos rótulos dos produtos, quais são os potenciais alergênicos que eles contêm.
Regulamentação do mesmo teor está sendo implementada desde o ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa.
A AGCS também prevê que novas fontes de recall de produtos serão criadas com a adoção de novas tecnologias como as linhas de produção robotizadas, uma vez que hackers podem assumir o controle dos equipamentos e inserir defeitos nos produtos que serão posteriormente identificados por consumidores e autoridades.
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