Brasil,

As pensatas de Fernando Henrique Cardoso

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Ex-presidente atrai 400 participantes ao Almoço do Empresário, evento mensal da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Recepcionado por um grupo de 400 pessoas- entre lideranças industriais, comerciais e políticas fluminenses, ávidas em compreender o Brasil que deu certo, seus descaminhos atuais e seu futuro, como frisou a presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Angela Costa, em discurso de boas-vindas aos participantes do evento Almoço do Empresário, ocorrido nesta quinta-feira (17), no Rio -, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso cobrou celeridade das lideranças políticas e econômicas brasileiras para solucionar a crise nacional, mas reconheceu que não existe uma bala de prata para solucionar as confusões em que o País está atolado. Para ele, “estamos cansados, cansados”, ... e “não podemos continuar a discutir o sexo dos anjos em um quadro doméstico tão complexo, ignorando ainda um cenário internacional de profundas mudanças em configuração”.

FHC destacou que o País caminha para seu terceiro ano de “economia parada”- enquanto EUA, Europa, e outras nações médias seguem a trajetória de crescimento- acrescentando que a crise brasileira tem danos mais profundos do que a recessão de economias europeias, porque lá não são tão afetadas as áreas de saúde, segurança, habitação, educação e transporte. “Nessas economias, as crises não afetam a vida das famílias de forma tão disruptiva como aqui”, lamentou.

O ex-presidente assinalou que, no Brasil, sempre aparecem arautos de um grande plano de salvação nacional, mas, a seu ver, não será possível mudar tudo de uma vez. Mas as soluções devem ser discutidas e implantadas logo, porque há um cenário de mudanças estruturais se configurando, com impactos para todas as nações, em virtude da economia digital ou da geopolítica mundial.

No plano externo, esses dois fatores devem estar no radar de nossas lideranças políticas e econômicas, a quem cabe adotar medidas para ampliar a resiliência do País. Afinal, diz FHC, há riscos de novas bolhas no futuro, que chegariam em um momento de grande vulnerabilidade do Brasil, tendo em vista o prolongamento das crises política e econômica. “A nossa crise atual é genuinamente nossa, ou seja, não tem qualquer contaminação da economia global. Então, é prioritário perseguir o equilíbrio das finanças públicas logo, no plano econômico; tornar nosso sistema político mais funcional, algo que hoje não é; antes que alguma nova bolha mundial, já prevista por economistas, gere uma crise global”, disse.

FHC destaca ainda que a transição para a economia digital é outro momento delicado da humanidade, porque deve levar o mundo a conviver com desemprego estrutural nos próximos anos ou décadas, exigindo medidas de apoio ou compensatórias para a população a ser afetada. A redução da jornada de trabalho, proposta do bilionário mexicano Carlos Slim no âmbito da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) ou a oferta de renda mínima universal são medidas citadas pelo ex-presidente para atenuar os impactos prováveis do avanço da inteligência artificial.

O jogo geopolítico, com uma possível aproximação da China dos países europeus, acompanhada de um resfriamento de sua relação com os EUA de Donald Trump, representa um momento de desorganização das relações internacionais, mas também poderá ser uma janela de oportunidade para os países emergentes, desde que estejam estruturados internamente. Algo que não ocorre com o Brasil dos dias atuais, que conta com uma massa de mais de 13 milhões de desempregados, crime organizado em ascensão, violência desenfreada, fatores esses capazes de provocar grandes problemas sociais.

Sociólogo de formação, FHC diz que, no plano político, o sistema de representação está em crise mundialmente. Mas, no Brasil, o desgaste dos políticos é ainda maior não só pelos efeitos da corrupção tornada pública a partir da Lava-Jato, mas também porque a maioria dos partidos não tem qualquer viés ideológico, servindo de lobby e proteção de interesses de corporações mais organizadas. O cidadão contemporâneo não se sente representado nesse modelo e agora quer fazer parte do processo decisório, tornando-se inconciliável sua relação com os partidos políticos tradicionais.

As saídas para alinhar a revolução cultural iniciada pela migração da sociedade moderna para a sociedade contemporânea (inaugurada pela internet e redes sociais) e estruturas políticas arcaicas serão construídas com respostas nas áreas de educação, econômica e política, aos poucos, concluiu.

Autoria: CNSeg - Confederação Nacional das Seguradoras


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